segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

REV. MARTINHO DE OLIVEIRA- Fundador do Seminário Presbiteriano do Norte



Martinho de Oliveira nasceu em Recife no dia 15 de janeiro de 1870. Seus pais, Teodoro Cavalcanti de Oliveira e Maria Hermina Albuquerque de Oliveira, trabalhavam como vendedores ambulantes e tinham outro filho, Teodoro, dois anos mais velho que Martinho. Devido aos limitados recursos da família, os meninos foram alfabetizados em casa. Aos 18 anos, Martinho foi convidado por um amigo a visitar a Igreja Presbiteriana de Recife. Seu pai já havia falecido e o irmão seguira para o Rio de Janeiro à procura de emprego. O jovem eventualmente foi recebido por profissão de fé e batismo pelo Rev. Juventino Marinho.

Após a morte da mãe, no final de 1889, Martinho tornou-se guarda-livros de uma loja de tecidos, resolveu estudar por conta própria e propôs casamento à jovem Maria, residente no bairro de Areias, que após três meses de namoro também havia resolvido se batizar. O casamento ocorreu em junho de 1891, na residência dos pais da noiva. Em setembro de 1892 nasceu a primogênita, Hermina. Autodidata, Martinho estudava com afinco, sendo incentivado pelo seu pastor. Seu currículo era composto de inglês, francês, história, geografia e doutrinas básicas da fé cristã, entre outras matérias. Os livros eram emprestados por amigos. Começou a colaborar com o trabalho evangelístico da igreja, revelando interesse pela carreira ministerial.

Martinho foi recebido como candidato ao ministério pelo Presbitério de Pernambuco em outubro de 1892, numa reunião realizada em Fortaleza. Em novembro de 1894 mudou-se para João Pessoa a fim de estudar teologia com o pastor local, Rev. George E. Henderlite. A Igreja de Fortaleza necessitou de mais um obreiro e o jovem estudante foi enviado para lá, onde nasceu o segundo filho, Alfeu, em 12 de novembro de 1895. Após ter prestado os devidos exames diante do Presbitério de Pernambuco, foi ordenado no dia 21 de julho de 1896, em João Pessoa, na mesma ocasião em que o colega Manoel Alfredo Guimarães. O novo ministro pastoreou inicialmente a Igreja de Pão de Açúcar, no Estado de Alagoas.

Na época, trabalhava em Garanhuns o médico e missionário Rev. George William Butler, que fundara a igreja local em 1895 (a igreja seria formalmente organizada em 22 de janeiro de 1900). Butler idealizou um colégio para a formação de obreiros para o Nordeste. Em 1899, ao transferir-se para Canhotinho, convidou Martinho para substituí-lo na Igreja de Garanhuns e fundar a escola, o que ocorreu no mesmo ano. Seu primeiro aluno foi Jerônimo Gueiros (1880-1953), membro de uma família que daria grandes contribuições à igreja e à sociedade no Nordeste brasileiro. Essa escola foi o embrião do futuro Seminário Presbiteriano do Norte, posteriormente transferido para Recife, que comemorou o seu centenário em 1999. Na noite de 17 de junho de 1900, reunido o Presbitério de Pernambuco, Martinho pregou no culto de inauguração do templo da Igreja de João Pessoa. No ano seguinte, foi eleito presidente do presbitério.

Além da assistência ao seu vasto campo pastoral, composto de muitas congregações e pontos de pregação, Martinho dedicou-se ao preparo dos estudantes para o ministério. Em seu “colégio”, ele lecionava inglês, francês, latim, geologia, trigonometria e música. Depois, ensinava português, aritmética e geografia a dois estudantes que iriam retransmitir essas matérias a outros. Também dava aulas à sua esposa, Maria Barra de Oliveira, e a outra professora, que dirigiam uma escola primária. À noite ensinava alguns rapazes que trabalhavam de dia e a outro grupo ministrava aulas utilizando a Teologia Sistemática de Charles Hodge. Seu objetivo era preparar líderes nativos para as igrejas do Nordeste, levando em conta as peculiaridades culturais da região, o que fez de modo abnegado e incansável em meio a muitas dificuldades. Seu trabalho foi continuado pelo Rev. George Henderlite, que havia se transferido para Garanhuns em 1901.

No final da sua carreira, Martinho tinha sete estudantes, três dos quais casados e com filhos. Henderlite contou em 1903 como esse obreiro, sem um vintém e sem a menor evidência de apreensão, enfrentou dias aflitivos através da oração, recebendo às vezes recursos de modo providencial, enquanto cuidava de estabelecer para o ano seguinte, no seu presbitério, uma rede de manutenção do seminário. Martinho deu ao educandário incipiente o nome de Escola Paroquial Evangélica de Garanhuns. Essa modesta instituição foi precursora não só do Seminário do Norte, mas do Colégio Evangélico Quinze de Novembro.

O Rev. Martinho teve um ministério curto e brilhante. Forte e vigoroso, assistiu à reunião do seu presbitério nos dias 2 a 9 de julho de 1903, em Recife. Naquela ocasião, viu concretizada a primeira parte do seu sonho, visto que o presbitério adotou a sua escola teológica, reconhecendo-a como um seminário, sendo ele eleito diretor e professor. Antes de terminar a reunião do presbitério, começou a sentir-se mal, com séria indisposição estomacal. De regresso a Garanhuns, deteve-se em Palmares para organizar a igreja, em 12 de julho, na companhia do Rev. Henderlite e do presbítero e futuro pastor Benjamim Marinho. No dia 20 de julho, agravando-se o seu estado, falou à esposa e aos colegas de modo sereno, afirmando que o Senhor o chamava. A Henderlite, especialmente, pediu: “Não abandone a educação dos nossos moços”. Mandou lembranças a vários colegas, citando pelo nome Juventino Marinho, Woodward Finley, Cassius Bixler, Jerônimo Gueiros (“meu filho no ministério”), Manuel Francisco N. Machado e Belmiro de Araújo César. Ao filhinho Alfeu, deixou um recado recomendando que fosse um homem honrado como o pai.

A despeito dos cuidados médicos e de uma comovida oração do Dr. George Butler, o Rev. Martinho de Oliveira faleceu em Garanhuns no dia 28 de julho de 1903, na véspera da cisão presbiteriana. No seu sepultamento, o Rev. Henderlite proferiu as palavras que se tornaram célebres: “Morreu Martinho, mas não morreu o Seminário”. Em setembro de 1941, os ossos de Martinho seriam trasladados para a base do púlpito do novo templo da Igreja de Garanhuns. Dona Maria veio a casar-se com um aluno do esposo, o Rev. Antônio Almeida, que mais tarde estudou no Seminário Teológico Union, na Virgínia, e foi professor no Seminário do Norte. O Rev. Antônio foi um verdadeiro pai para os filhos do falecido e teve duas filhas com Maria: Ila e Jair.

O Rev. Martinho deixou quatro filhos: Hermina, Alfeu, Séfora e Débora. Séfora foi casada com o Rev. Aureliano Gonçalves Guerra. Alfeu Barra de Oliveira foi sucessor do pai no ministério. Professou a fé em 1907, na Igreja de Garanhuns, com o Rev. Antônio Almeida. Cursou o Seminário do Norte e foi ordenado pelo Presbitério Bahia-Sergipe em 15 de janeiro de 1926. Pastoreou inicialmente várias igrejas do sul de Sergipe (Anápolis, Urubutinga, Riachão e Estância) e mais tarde a Igreja de Caruaru, em Pernambuco. Também pastoreou interinamente por duas vezes a Igreja de Aracaju. O Rev. Hilton Figueiredo de Oliveira, um neto de Alfeu, reside em Campinas, onde coopera com uma nova igreja na Chácara Primavera. No dia 24 de setembro de 1966, o então seminarista Enos Moura criou o Instituto de Pesquisa Martinho de Oliveira, no Seminário Presbiteriano do Norte, para preservar a memória do presbiterianismo no Norte e no Nordeste do Brasil.

Autor:Alderi Souza de Matos

REV. BASÍLIO CATALÁ CASTRO – O Príncipe dos Pregadores Presbiterianos da Bahia

 

Em maio de 2004 transcorreu o centenário do nascimento do Rev. Basílio Catalá Castro, ilustre pastor, professor e parlamentar do Estado da Bahia. Basílio nasceu em Palmeiras, nas Lavras Diamantinas (região central do estado), no dia 7 de maio de 1904, sendo seus pais o advogado provisionado Joaquim de Castro Lima e a professora Delfina Catalá Lima. Por volta de 1910, Joaquim defendeu um pastor que havia chegado à cidade, Rev. João Capistrano, que corria o risco de ser expulso por uma turba de fanáticos. Por causa desse episódio, o menino, embora pertencente a uma família católica, conseguiu matrícula na escola presbiteriana de Ponte Nova, às margens do rio Utinga. O Colégio de Ponte Nova, localizado no atual município de Wagner, havia sido fundado em 1906 pelo missionário norte-americano Rev. William Alfred Waddell.

Durante os seus estudos nessa instituição (1915-1920), Basílio abraçou a fé evangélica. Sentindo a vocação ministerial, fez os estudos pré-teológicos no Instituto Gammon, em Lavras (MG), e estudou por três anos no Seminário Presbiteriano do Norte, em Recife (1923-1925). Passou um ano em São Paulo, onde estudou português e literatura com o famoso professor Silveira Bueno, no Mackenzie College, e fez um curso de extensão teológica no Seminário Presbiteriano Independente, tendo sido aluno de Alfredo Borges Teixeira, Epaminondas Melo do Amaral e Otoniel Mota.

Foi ordenado pastor no dia 27 de novembro de 1927 pelo Presbitério Bahia-Sergipe, junto com o colega e amigo Otacílio Alcântara. Iniciou o seu ministério em Ponte Nova, onde também foi professor de português, literatura e história. Casou-se em 9 de janeiro de 1933 com Edelvira Regis, membro de uma destacada família presbiteriana de Campo Formoso. Tiveram quatro filhas: Célia (médica), Anete e Sônia (arquitetas) e Gláucia, que não concluiu os estudos em virtude de grave enfermidade, vindo a ser motivo de grandes aflições para o pai. Basílio também foi pastor no sul da Bahia (Itabuna) e no nordeste do estado, nos municípios de Bonfim, Campo Formoso, Saúde e Jacobina, tendo o seu campo uma extensão territorial maior que o Estado de Sergipe.

Em 1933, Basílio fundou a Igreja Presbiteriana do Salvador, junto ao Colégio 2 de Julho, no bairro do Garcia, pastoreando-a até ficar incapacitado pela enfermidade. Essa igreja, a segunda a ser organizada na capital baiana, está hoje filiada à Igreja Presbiteriana Unida do Brasil. Foi professor, diretor e capelão do referido colégio, de origem presbiteriana, por cerca de trinta anos. Também foi muito atuante nos concílios da igreja e na imprensa secular. Em 1941, publicou o livro Cochilos de um Sonhador, uma resposta ao padre Francisco de Sales Brasil, que havia escrito um libelo contra os protestantes intitulado Eu Tive um Sonho. Como parlamentar por dois mandatos na Assembléia Legislativa da Bahia (a partir de 1946), destacou-se pela dignidade de atuação e pela defesa de princípios éticos. Sendo grande orador sacro, foi considerado o príncipe dos pregadores presbiterianos da Bahia.

Nos últimos anos da vida, sofreu muito com acessos de asma. Foi jubilado em 1965, após 37 anos de ministério. Faleceu no Hospital Espanhol, em Salvador, no dia 13 de maio de 1972. No mesmo ano, foi publicado um livro com alguns de seus sermões, que acaba de vir a lume em 2ª edição, sendo introduzido por valiosas reminiscências do seu neto Luiz Humberto Castro de Freitas. No dia 8 de outubro de 2004, em sessão solene na Faculdade 2 de Julho, foi inaugurada a Biblioteca Basílio Catalá Castro e entregue o prêmio de igual nome ao vencedor de um concurso de monografias sobre o homenageado. D. Edelvira e as filhas ainda vivem na cidade de Salvador.

Um dos seus discípulos mais conhecidos foi o Rev. Eudaldo Silva Lima (1909-1988), ilustre pioneiro presbiteriano em Brasília, também natural da Bahia, que professou a fé com o Rev. Basílio em 29 de novembro de 1929, em Ponte Nova, e foi por ele encaminhado nos estudos para o ministério. Em seu livro Romeiros do Meu Caminho, Eudaldo diz o seguinte sobre o seu mentor: “Sempre marcou ele seu ministério de pregador e educador por um otimismo sadio e uma lhaneza de trato que a todos envolvia e a todos cercava de simpatia. Nos problemas e discussões dos Concílios sua atuação era caracterizada pelo bom senso e bom humor, nunca se mostrando irritado nem levantando a voz senão para defender a justiça e o direito”. Por sua carreira brilhante como ministro, educador e homem público, bem como por suas valiosas contribuições à igreja e à sociedade, o Rev. Basílio Catalá Castro será sempre lembrado como um dos grandes vultos do presbiterianismo no Brasil.

Fontes:
Eudaldo Silva Lima, “Rev. Prof. Basílio Catalá Castro”, Brasil Presbiteriano (Ago e Set 1972, p. 4); Eudaldo Silva Lima, Romeiros do Meu Caminho (Brasília, 1981), p. 207-215; informações do presbítero e historiador Eudaldo Andrade Costa (Salvador).
Autor: Rev. Alderi Souza de Matos

sábado, 24 de fevereiro de 2018

Rev. Dr. Jayme de Barros Oliveira Partiu para Junto do Pai Eterno

Foto de Diego Batista.

O nosso pastor Rev. Dr. Jayme de Barros Oliveira, era Pastor Auxiliar da Igreja Presbiteriana Filadélfia.O  Pastor Dr. Jayme de Barros, pernambucano, de família presbiteriana, formado em Odontologia, ordenado pelo Presbitério de Garanhuns, casado com Eunice França, pai de Vânia Barros e Draiton Barros, na última quinta dia 22 de fevereiro de 2018 às 15:15h partiu para está com o Pai eterno, seu enterro foi na sexta- feira dia 23 de fevereiro de 2018 às 16:00n no cemitério da cidade de Jupi-PE.

Durante a sua vida viveu sem ambição, com humildade, servindo na seara do Senhor nas igrejas por onde passou. Como pastor pastoreou varias igrejas do nosso presbitério com amor e muita dedicação para a glória de Deus deixando sempre a sua marca juntamente com a sua esposa irmã Eunice França.

O pastor Jayme, partiu da terra para o céu, onde não existe mais tristeza, dor ou sofrimento, pois está no seio do Pai Celestial. Quanto a nós, sentiremos muitas saudades, mas como filhos na fé, somos desafiados pelo seu exemplo a vivermos aqui na terra na expectativa do céu, certos de que um dia estaremos juntos na mansão celeste. 

ANTÔNIO GUEIROS:O EVANGELIZADOR DOS SERTÕES (1870-1951)

Antônio de Carvalho Silva Gueiros, 1950
“O Evangelizador dos Sertões”
Foto:  livro “A História da Família
 Gueiros”  de David Gueiros Vieira.

Neste momento eu convido você para conhecer a biografia do pastor Antônio Gueiros, um dos maiores plantadores de igrejas da nossa região.

Na década de 1880, encontrava-se Francisco de Carvalho Silva Gueiros e família em Garanhuns-PE, onde fora sub-empreiteiro da construção  do último trecho

da Ferrovia Sul de Pernambuco, no trecho Recife-Garanhuns. Ao termino da construção da referida ferrovia, rodeado de parentes ricos e poderosos,  Francisco Gueiros e Filhos, viviam, no entanto, muito modestamente em Garanhuns, como donos de hospedaria e operadores de uma mercearia.

Esta mercearia em função da liberação dos escravos, em 1888, ficara sem mão – de – obra. A família assim destituída de seus bens de seus “bens” pela Lei Áurea, entrou em crise econômica. Dai em diante, as dificuldades financeiras eram tantas, que Jerônimo Gueiros, em seus poemas, sempre se referia à sua mãe como uma “pobrezinha”. Essa condição de “pobreza” do casal Francisco Gueiros e Rita Francisca Barbosa, vivendo entre parentes ricos e poderosos, marcou profundamente os dois filhos mais novos, Antônio e Jerônimo Gueiros.

Em consequência da Lei Áurea, os dois filhos mais jovens da família – Antônio e Jerônimo – tiveram de pessoalmente assumir o trabalho manual da marcenaria. Tal atividade era algo aviltante para moços brancos, cuja família se orgulhava  de ser descendente de “dama de corte portuguesa” e de “nobre holandês”. Essa obrigação de trabalhar com as mãos, ocorria em uma época e em sociedade de mentalidade ainda escravagista, na qual, até meados do século passado – na década de 1940 – os homens de classe média – média e média – baixa, símile aos mandarins chineses, ainda deixavam crescer as unhas dos dedos mindinhos, afim de demonstrar à sociedade em geral que não eram operários, ou que não trabalhavam com as mãos, tal era o horror que as pessoas tinham a esse tipo de trabalho, tido como “vergonhoso”.

Mais ainda, na marcenaria o trabalho era pesadíssimo, e os jovens rapazes não estavam acostumados ao mesmo. As ferramentas eram primitivas: serrotes de mão para serrar toras de madeiras e simples plainas para preparar as tábuas. A madeira era toda de lei: pau-ferro, maçaranduba, angelim e outras mais. O trabalho de tão pesado, deixava os braços dos rapazes doloridos ao ponto que eles  mal se aguentavam no final do dia. O Reverendo Antônio Gueiros com lágrimas nos olhos contava aos filhos que aquele fora o trabalho mais árduo que jamais fizera em toda sua vida.

Em 1903, a escola teológica de Martinho de Oliveira – que morrera naquele mesmo ano – passara a ser chamado Seminário Evangélico de Garanhuns. Dr. George Henderlite foi seu primeiro e, por uns tempos, seu único professor. Em 1908, tendo o reverendo Antônio Gueiros terminado seus estudos naquele seminário – e já com 36 anos de idade, casado com três filhos – foi enviado pelo presbitério do Norte, cuja jurisdição ia do Amazonas à Bahia, para a cidade de Belém do Pará.

Belém do Pará  ainda no auge do período da produção da borracha era então um importante centro de exportação daquele produto, mas já começa a declinar, com início da queda do preço da borracha no mercado internacional. A estadia do reverendo Antônio Gueiros no Pará, no entanto, foi para ele um dos mais difíceis períodos de sua vida.

A cidade de Belém, apesar de sua opulência, era um antro de pestilência: cheio de malária, febre amarela e hanseníase. No tanto o que mais amedrontava o reverendo Antônio Gueiros a hanseníase, prevalecente em toda Amazônia, e muito comum em Belém do Pará. Vários dos membros da igreja Presbiteriana local sofriam daquela enfermidade, bem como uma das vizinhas do pastor, pessoas essas que tinham o hábito de fazer festinha com os filhos dele. Apesar de o médico norueguês Gerhard Arnuer Hansen  ter descoberto, em 1874, o bacilo que causa esta enfermidade, eram ainda totalmente desconhecidos da medicina de então, a etiologia da mesma, e a maneira como ela se propagava, ou mesmo como poderia ser curada, ou arresta.

Para o pastor Antônio Gueiros, que jamais vira o mal de Hansen em Pernambuco, o terror que sentia, de que os filhos viessem a ser infectados por ele, levaram-no a pedir – e até mesmo a implorar – que o presbitério o devolvesse a seu Estado. Voltou a Garanhuns, em 1914, convencido erroneamente de que sua filha Noemi, sua filha mais velha, que aparecera com manchas na pele, fora infectada pela hanseníase. Por essa razão, durante anos a fio, referindo-se à filha em suas orações nos cultos domésticos, ainda implorava: “Senhor, cura tua servazinha”.

Logo que regressara para Garanhuns, o reverendo Antônio Gueiros foi eleito pastor da Igreja Presbiteriana local, e indicado como missionário para o sertão. Começou então sua longa carreira de evangelizador, que durou até 1947, quando foi jubilado. Seu campo de trabalho estendia-se  a 300 quilômetros, mais ou menos, chegando ao sul até as cachoeiras de Paulo Afonso, e oeste triunfo e Serra Talhada.

Em suas longas ausências, era substituído no púlpito da Igreja de Garanhuns pelos missionários norte-americanos Dr. George Henderlite, Dr. William Thompson, Dr. George Taylor, Reverendo William Neville, e outros mais, professores do Seminário Presbiteriano de Garanhuns e do Colégio Quinze de Novembro.

Não havia estradas carroçáveis no sertão, nem transporte público de qualquer espécie. Havia apenas “trilhas de boi”, que passavam “como túneis dentro da floresta”, na região da serra, e como tênues veredas, entre os cactos e as plantas xerofílicas nas caatingas do sertão. Cada viagem, feita a cavalo, ou em lombo de mula, era uma aventura.

Lembro-me ainda, dos meus dias de criança, das preparações que se faziam em casa para  suas longas viagens. Minha avô Maria de Nazarerth Duarte Furtado, conhecida como “Maroca”, passava toda uma manhã, ou tarde, no preparo de um farnel, típicos dos sertanejos nordestinos daquela época. Este consistia de um saco de “paçoca salgada”, e outro de “paçoca doce”. A primeira era feita de litros e litros de farinha de farinha de mandioca torrada, batida no pilão, com muita carne de sol assada e desfiada, até que se tornava uma massa fina. A paçoca doce era feita também de litros de farinha de mandioca, batida no pilão  com açúcar preto, e castanha de caju ou amendoim. Essas “paçocas” eram colocadas em sacos de aniagem, amarrados na sela do cavalo. Essa seria sua alimentação, nas três refeições do dia, durante toda a viagem.

Levava ainda um saco de frutas da estação – limão, laranja, ou  romã – como fonte de vitamina C,  para prevenir a pelagra. Transportava ainda duas cabaças bem grandes, cheias de água mineral, das fontes de água mineral de Garanhuns, cabaças essas que eram igualmente amarradas uma à outra com uma corda, e penduradas em frente à sela do cavalo. Quase sempre trazia também uma sacola cheia de folhas secas de laranja, de limão, ou de “capim-santo”, para fazer chá com as águas barrentas do sertão, quando acabava a água limpa que  levava. Enchia os bolsos de confeitos e balinhas, e depois de um culto doméstico e uma oração, seguia viagem.

Residia em sítio nas encostas de um dos morros de Garanhuns, de modo que  o caminho que o levava ao sertão ficava do outro lado do vale. Nós, as crianças, ficávamos então no alpendre da casa esperando até ele despontar na estrada subindo o alto da Boa Vista, a caminho do sertão, lugar este que ele  jocosamente chamava de “caixa-prego”. Era sempre um dia grande de tristeza para todos, pois ele era o maior amigo que tínhamos na vida.

No sertão, hospedava-se em casa dos crentes, em geral gente muito pobre, de modo que o farnel às vezes tinha que ser dividido com os próprios hospedeiros, especialmente em épocas de seca. Seu filho Israel Gueiros contava de algumas viagens que fizera, acompanhando o pai, quando descobrira que as balinhas levadas por ele era para serem distribuídas com as criancinhas sertanejas. Estas o esperavam a beirada estrada, com as mãozinhas estendidas gritando: “ Benção seu Tonho”. Ele respondia com o “Deus te abençoe” de sempre, e colocava uma balinha na mão de cada uma, quase todas elas completamente nuas, tal era a pobreza dos sertanejos daquela época.

Sua generosidade com os sertanejos era legendária, e até folclórica. Frequentemente voltava para casa sem as roupas que levava nas viagens, por tê-las doado a algum necessitado. Seus filhos certa vez lhe deram, como presente de Natal, um terno de casimira inglesa, muito bom,  a única roupa decente que possuía para subir ao púlpito. No entanto, logo em seguida foi visto tirando-o do corpo, para doá-lo a um sertanejo crente, que ia à capital avistar-se com o governador, e não tinha roupa adequada para ocasião, ia muito além do farnel que levava. Descobrira desde cedo que aquelas paragens, abandonadas pelos governos federal e estadual, eram carentes em tudo: faltava médicos, dentistas, fotógrafos e até mesmo barbeiros. Essas eram atividades que ele podia exercer, mesmo sem estar profissionalmente habilitado, pois a alternativa era de deixar aquelas pessoas à mingua desses serviços. Assim aprendera a arrancar dentes, a fazer obturações simples, a fazer primeiros curativos, a encanar pernas e braços, a tirar retratos e a cortar cabelos.

Sua equipagem, em vista dessas atividades, era acrescida de uma maleta de  instrumentos médicos e dentários; levava também tesouras, pentes e navalhas, e uma enorme “câmara obscura” alemã, marca Agfa, dessas que ainda hoje se vêem nas mãos dos fotógrafos ditos “lambe-lambe”, nos subúrbios das grandes  cidades. Em casa, montara um quarto escuro, com todos os equipamentos necessário para revelar as chapas que trazia do sertão. Deixou caixas e caixas de chapas de vidro, das fotografias tiradas pelo sertão a fora durante 30 anos de viagens; um acervo documental de valor histórico inestimável. Infelizmente, um de seus herdeiros, não compreendendo seu valor, destruiu essas chapas, utilizando o vidro para fins domésticos.

Ao chegar nas pequenas vilas e cidades do sertão, montava uma cadeira ou caixão alto, na feira, ou em algum lugar público, no qual sentavam seus clientes e “pacientes”. Então lhes cortava os cabelos, arrancava-lhes os dentes, fazia-lhes os curativos que fossem necessários e ainda os fotografava, se assim pediam. Enquanto isso lhes ia pregando o evangelho, e distribuindo folhetos de propaganda evangélica, e trechos da Bíblia.

Essas viagens não eram totalmente livre de perigos. Aquela era uma época de cangaceiro “Lampião” e seu bando, que era apenas um dos muitos bandoleiros que pululavam pelas caatingas. No entanto, nunca nada lhe aconteceu. Contava o Dr. Othoniel Gueiros, amigo de Audálio Tenório, prefeito de Águas Belas e “coiteiro” de Lampião, ter este afirmado que Lampião e seu bando muitas vezes viram o pastor Antônio Gueiros cavalgando pelas veredas do sertão. Quando algum cangaceiro dizia “lá vai o bode velho!, Lampião replicava: “deixem ele passar não bulam com ele, que é um homem de Deus, e amigo do meu amigo Audálio, que é meu coiteiro”. Por essa razão afirmava Audálio, Antônio Gueiros nunca teve de se encontrar com Lampião, face a face, pois este o evita e protegia. Lampião, como se sabe, era um homem devoto e muito religioso. Audálio Tenório era primo afastado dos Gueiros, pelo lado dos cardosos de Águas Belas.

Apenas uma vez o pastor Antônio Gueiros chegou bem perto de ser morto. Esta foi quando o vigário da cidade de Bom Conselho decidira livrar-se do pastor protestante incômodo, contratando assassinos profissionais para matá-lo, quando da sua próxima ida aquela localidade. Sem saber de nada, o reverendo Antônio programou uma viagem para Bom Conselho. Porém, ao chegar no alto da Boa Vista, ainda em Garanhuns, seu cavalo manso de estimação, que andara com ele várias vezes por todo sertão, empacou e recusou-se a continuar a viagem. Como não er pessoa de fazer violências, nem mesmo a um animal, virou a rédea do cavalo e voltou para casa. Algumas horas depois – a galope – chegava um dos presbíteros da Igreja de Bom Conselho. Vinha avisá-lo para não ir aquela cidade naquele dia, pois o vigário contratara cangaceiros para mata-lo, pessoas essas  que o mensageiro encontrara, em uma tocaia, a poucos quilômetros da cidade de Garanhuns

Como a famosa mula de Balaão bíblico aquela alimária havia pressentido algum perigo, ou Deus mesmo mandara que ela parasse. Dai em diante, o animal foi chamado de “cavalo santo”, pelas crianças. Era um animal que tinha viajado tantas vezes pelas várias localidades do sertão, que, as vezes, o reverendo Antônio Gueiros, de tão cansado, dormia na sela, e o animal seguia caminho, levando-o para ao próximo pouso, mesmo sem ser conduzido.

Após 1935, as atividades missionárias do reverendo Antônio Gueiros finalmente tiveram de parar. Naquele ano, durante a chamada Intentona Comunista, como será visto abaixo, então, então visitando o Seminário Presbiteriano do Norte, ele foi ferido a bala numa perna, resultando na perda daquele membro. Hoje se sabe ter sido um tiro dado por um dos revolucionários, entrincheirados em uma fábrica ao lado do Seminário. Sua perna gangrenou, ele esteve a beira da morte, naquela época sem penicilina ou antibiótico de qualquer tipo. Depois disso, enfermou do coração, falava-se que fora em consequência da gangrena. Ainda tentou viajar mais uma vez a cavalo pelos sertões, porém, aos 64 anos de idade, e por razões de saúde, foi obrigado a pôr de lado aquela atividade missionária, sem, no entanto, ter tomado providências para que seu campo fosse ocupado por outros Para esse fim, criou uma sociedade missionária, patrocinada pela Igreja Presbiteriana de Garanhuns, que enviou cinco pastores para cobrir todo o campo que ele vinha evangelizando sozinho.

Depois disso, contentava-se a passar os dias caminhando pelo sítio, podando árvores e limpando o mato, sempre seguido de uma velha cachorra loba, chamada “Cratera”, que o adorava. Em 1936, ao final de suas atividades como missionário, deixou pelo menos 62 igrejas e congregações, fundadas ou pastoreadas por ele, que são abaixo indicadas:

No Estado do Pará; Belém, Soure, Bragança e Campo Experimental.

Em Pernambuco: Garanhuns, Inhumas, Gilead, Cachoeira Dantas, Palmeirina, São João, Angelim, Burgos, Tiririca, Catonho, São Pedro, Neves, Fama, Brejão, Brejinho, Maçaranduba, Poço Comprido, Freixeiras de Santa Quitéria, Genipapeiro, Correntes, Lajedo, Entupido, Águas Belas, Buique, Salobro, Jupi, Bom Conselho, Serrinha, São Bento e Cachoeirinha.

Em Alagoas – Mata – Grande, Cana Brava, Bananeiras, Olho dÀgua de Areias, Lagoa Funda, Monte Alegre, São Serafim, Ponto-Alegre, Santa Clara, Rio Branco, Mocambo, Barracão, Baixa Seca, Capiá, Pão de Açúcar, Maravilha, Itapicuru, Cacimba, Pé de Serra de São Pedro, Prata, Barro, Mandaçaia, Piabas, Gatos, Capoeira e Vinte Cinco.

Teve também sob sua jurisdição de Gameleira e Quipapá, em Pernambuco e a igreja de Quebrangulo em Alagoas. Consta que também viajou por uns tempos  pelos lados da Serra do Teixeira, no sertão da Paraíba, porém dessas viagens não temos nenhuma documentação escrita. A única notícia que temos das mesmas vêem de sua filha mais velha, a professora Noêmi Gueiros Vieira, então jovem demais para conhecer ou lembrar dos detalhes dessas peregrinações paraibanas.

Após o acidente em 1935, continuou ainda como pastor da Igreja de Garanhuns, até 1947, quando foi jubilado e eleito seu pastor emérito. Faleceu subitamente, em casa no ano de 1951. Na ocasião de sua morte, a cachorra “Cratera”, sua constante companheira por tantos anos, deitou-se debaixo da cama do falecido e uivou até que levaram o corpo para o enterro. Depois disso, o animal permaneceu debaixo da cama, recusando água e comida, em pouco tempo, ela também morreria.

Amado por todos da igreja, e muito respeitado por toda a cidade, o enterro do reverendo Antônio Gueiros foi seguido pela maioria da população de Garanhuns. Sua morte foi lamentada também pelas comunidades católicas e espírita da cidade que, à sua maneira, deram demonstrações de pesar pela mesma. Consta que ao correr a notícia do seu falecimento, os sinos da catedral e de todos os outros templos católicos na cidade passaram a soar o repique fúnebre, só silenciando quando seu corpo foi baixado à cova. Uma singela porém comovente honraria, feita pelo bispo católico local, a esse pastor protestante.

Artigo extraído do Livro A História da Família Gueiros, capítulo XII,  de David Gueiros Vieira

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

XVIII Congresso da Confederação Nacional de SAFs - Transmissão ao Vivo

Transmissão ao Vivo –  XVIII Congresso da CNSAFs  
21 a 25 de fevereiro 2018
Gramado – RS
Acompanhe ao vivo a partir do dia 21 às 19h30
Solicitamos as orações de todas as sócias das Confederações Sinodais.
Pedimos a todas as irmãs que orem pelo Congresso.
Que tudo que vier a acontecer objetive a glória de Deus em Cristo Jesus.


segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Curso de Preparação de Obreiros do Instituto Bíblico do Norte



Formandos -CPO 2017 do Instituto Bíblico do Norte
FORMATURA DO CPO 2017
CPO – CURSO DE PREPARAÇÃO DE OBREIROS
É um curso  em nível médio,  com duração de  3 anos, que funciona no período de férias do mês de julho e visa o Conhecimento Bíblico, o Fortalecimento do Caráter Cristão e o Treinamento para Servir às Igrejas Locais e/ou Campo Missionário.
INVESTIMENTO:
Aluno interno – Um salário mínimo vigente – anual
Aluno Externo –  R$ 200,00 anual
O PERFIL DO CANDIDATO À MATRÍCULA DEVE PREENCHER OS SEGUINTES REQUISITOS:
1 – Ser membro em plena comunhão, pelo menos, um ano junto a uma igreja evangélica.
2 – Ser vocacionado para trabalhar no campo missionário, ou na Igreja local, cujo caráter demonstre estar comprometido com o Senhor Jesus Cristo.
3 – Ter no mínimo 21 anos  e Ensino Fundamental Completo.
4 – Estar disposto a ter um estilo de vida simples, tendo sempre em consideração os interesses do grupo nas decisões e atitudes.
5 – Ser um líder servo, estando disposto a fazer qualquer tipo de serviço, com alegria e ações de graça.
6 – Ser saudável física e mental e psicologicamente.
7 – Ser flexível: Capaz de suportar pressões, aceitar circunstâncias diversas.
8 – Ser apresentado pela igreja ou Conselho com a recomendação do Pastor.
9 – Apresentar uma carta de compromisso de seus mantenedores.
Venha estudar conosco para melhor servir ao Senhor.

INSTITUTO BÍBLICO DO NORTE – HISTÓRICO

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Instituto Bíblico do Norte
Alderi S. Matos
O CASAL FUNDADOR DO IBN – Rev Raynard e Frances Arehart

Em 1945, a Missão Norte do Brasil, da Igreja do Sul dos Estados Unidos (PCUS), reconhecendo a necessidade de preparar moças para se dedicarem ao evangelismo e à educação cristã, resolveu abrir um instituto bíblico na região Nordeste. A iniciativa partiu do casal Edwin e Frances Arehart, que havia chegado ao Brasil em 1936, tendo trabalhado inicialmente em Fortaleza antes de se transferir para Recife. Em 1944, a chegada da missionária Charlotte Alexander Taylor, da Virgínia, especializada em treinar obreiros, possibilitou a abertura da nova escola.

Havia muitas dificuldades a superar, a começar de um local para sediar a instituição. Os diretores do Ginásio Evangélico Agnes Erskine, em Recife, se dispuseram a hospedar o instituto, oferecendo para tal um quarto de dormir e uma pequena sala de aula no edifício principal. O instituto bíblico iniciou as aulas no dia 7 de março de 1945 com seis moças – duas do Ceará, duas do Maranhão e duas de Pernambuco. A inauguração oficial se deu no dia 2 de abril, na capela do Agnes, com o nome de Escola de Treinamento Bíblico para Moças (ETBM). O primeiro diretor foi o Rev. Edwin Raynard Arehart.

O corpo docente era composto pelos Revs. Landgon Henderlite, Antônio Almeida, Samuel Falcão, Ismael Andrade e as professoras Charlotte Taylor e Frances Arehart. A primeira turma se formou em 1947. Nos sete anos seguintes, outras seis turmas concluíram o curso e passaram a trabalhar nas igrejas e campos missionários. A maior parte das formandas foi servir no interior, lecionando em escolas paroquiais de cidades e vilarejos, beneficiando crianças que, sem elas, não teriam a oportunidade de estudar. Elas ensinavam não somente as matérias do curso primário, mas também a Bíblia para crianças e jovens, visitavam os lares com objetivos evangelísticos, organizavam escolas dominicais, uniões da mocidade e sociedades femininas, e em muitos locais ofereciam aulas de alfabetização de adultos.

Algumas ex-alunas passaram a lecionar no Colégio 15 de Novembro, em Garanhuns, e no Ginásio Agnes Erskine. Outras estudaram enfermagem ou serviam em igrejas locais, ajudando no trabalho de educação cristã e outras atividades. Diversas ex-alunas casaram-se com pastores; em 1955 havia moças formadas no IBN servindo a Cristo em onze estados da federação. Outros professores dos primeiros anos foram o Rev. Heinz Neumann, Maurício Wanderley, Noemi Marinho, Edla de Oliveira, Else Azambuja, Álvaro Costa, Lina Boyce, Ann Pipkin e Ruth Collette. O curso tinha a duração de dois anos, com ênfase no estudo da Bíblia. Também havia aulas sobre o trabalho nos diversos departamentos da igreja, higiene, evangelismo pessoal, missões, canto, órgão e datilografia. Devido às limitações de espaço, durante o período em Recife a matrícula ficou restrita a 15 alunas.

Em 1949, a escola recebeu parte da oferta de aniversário das senhoras da PCUS, no valor de 45 mil dólares, destinada à compra de um terreno e à construção de uma sede própria. A missão decidiu transferir a ETBM para Garanhuns, fato motivado em parte pela existência do Colégio 15 de Novembro naquela cidade, o que auxiliaria na formação do corpo docente. O terreno foi adquirido em 1951, nas proximidades do referido colégio; no ano seguinte foi adotado o nome Instituto Bíblico do Norte (IBN). A construção se deu em 1953-1954, sendo as novas e amplas instalações inauguradas no dia 1º de maio de 1955. A capela recebeu o nome do Rev. William Neville, que havia supervisionado a construção do edifício. O Rev. Arehart novamente ocupava a direção, sendo vice-diretora a missionária Charlotte Taylor.

A vasta propriedade incluía o prédio da administração e salas de aula, um grande dormitório para moças, um dormitório menor para rapazes e uma fazenda experimental. Visto que, após a conclusão do curso, um bom número de alunos voltava para a vida no campo, foi criado um curso especial de um ano que incluía treinamento em agricultura. A mudança para Garanhuns também possibilitou a criação de um curso básico ou de preparatórios para alunos que não tinham preparo suficiente para acompanhar o curso bíblico. O novo curso ficou a cargo da professora Aretusa Gueiros Pessoa, que no final de 1958 concluiu um curso de pós-graduação nos Estados Unidos.

Ao mesmo tempo, foram recebidos os primeiros rapazes, num total de seis, que desejavam dedicar suas vidas ao serviço de Cristo como evangelistas e obreiros leigos. O corpo docente também incluía Julia Pratt Taylor, que retornou ao Brasil em 1956, a convite da missão, tendo servido por dois anos e meio. Era viúva do Rev. George Washington Taylor Jr., falecido no início de 1936, que havia sido diretor do Colégio 15 de Novembro. Em 1959 o corpo discente totalizava 34 alunos. Nesse ano, foi construído o anfiteatro, também idealizado pelo Rev. Neville, com capacidade para 200 pessoas. Foi fundada a escola experimental, sob a direção da professora Aretusa Gueiros, visando atender as crianças menos favorecidas dos bairros da cidade.

Em 1960, elevou-se o nível educacional dos alunos a serem admitidos, passando a ser exigido o curso oficial de admissão. Caso o aluno não tivesse esse curso poderia fazê-lo no prazo de um ano no próprio IBN. O exame de admissão era uma exigência para se cursar o Ginasial e a Escola Normal Rural. Em 1965, foram aprovados os estatutos do IBN e a administração passou a ter maior participação do Conselho Deliberativo do que da Missão Norte do Brasil. O Conselho Deliberativo é, atualmente, o órgão de direção superior do IBN, formado por sete membros efetivos e sete suplentes, indicados pela Igreja Presbiteriana do Brasil e pelos sínodos da região, com mandato de quatro anos.

Em 1966, o IBN participou da Cruzada ABC, com a responsabilidade de formar professores. A cruzada financiava as bolsas dos alunos que queriam se preparar para a alfabetização de adultos. Nesse período, houve um aumento significativo no número de matrículas. Em 1968, foram admitidas 80 alunas, muitas das quais residiam no Colégio 15 de Novembro, visto não haver acomodações suficientes no IBN. A década de 70 apresentou muitas dificuldades. Desde 1969, a Cruzada ABC deixou de enviar bolsistas, de modo que grande parte do sustento financeiro continuou a vir da Missão presbiteriana. Ao entrar a nova década, a Missão teve de cortar parte dos subsídios destinados ao IBN e chegou-se a discutir a possibilidade de fechamento da instituição.

Em 1975, a viúva do Rev. Neville (Mary) criou nos Estados Unidos o Fundo Escolar Hap Neville, que financiava bolsas para o IBN. No ano seguinte, parte da propriedade foi vendida, sendo o dinheiro investido em benefício da escola. Em 1978, foi fundado o Instituto Bíblico Samuel Falcão como extensão das atividades do IBN. Esse instituto tinha como diretor o Rev. Edijéce M. Ferreira e como coordenadora a missionária Elisa González Pierre (Elisa Goodson). O IBSM tornou-se independente do IBN em 1980.

Em meados da década de 70, dentre os moços que passaram pelo IBN havia 17 pastores e 11 evangelistas. Das ex-alunas, mais de 30 eram esposas de pastores. Havia também professores em todos os níveis, enfermeiras, diretores de orfanatos, assistentes sociais e coordenadores de educação cristã e de música em igrejas locais. Eram oferecidos quatro cursos: Curso Bíblico Intensivo de um ano para concluintes do 2º grau; Curso de Música de dois anos para concluintes do 1º ou 2º graus; Curso Bíblico-Científico de três anos para alunos que também estudavam no Colégio 15 de Novembro, e Curso Bíblico-Pedagógico de três anos para os que estudavam no Colégio Municipal de Garanhuns.

O Curso de Música, que visava preparar organistas, regentes de corais e coordenadores do programa musical de igrejas locais, era dirigido pela missionária Margaret Morrison, conhecida por seu talento na execução da harpa. O coro de sinos do IBN era muito procurado para tocar nas igrejas. Todos os alunos tinham atividades especiais nos domingos, ensinando em escolas dominicais de congregações e fazendo visitas evangelísticas. Havia a Semana de Missões, Semana de Aulas Especiais e um Minicurso para Escritos Evangélicos, dirigido pela professora Juracy Fialho Viana e Miss Ann Farr Pipkin. Participavam do corpo docente os dois ministros presbiterianos da cidade, Revs. Gerson da Rocha Gouveia e Nisan Baía.

Em 1978, retornou para os Estados Unidos a diretora do instituto, missionária Charlotte A. Taylor (1913-1993), após 34 anos no Brasil, quase todos passados no IBN, sendo substituída interinamente por Ann Pipkin. O instituto tinha 42 alunos de dez estados. No ano seguinte, assumiu a direção o Rev. Frank Musick. Em 1983, as propriedades do instituto foram nacionalizadas, sendo transferidas para o Conselho Deliberativo e para a Igreja Presbiteriana do Brasil. A partir dessa data, a IPB assumiu maior responsabilidade no sustento do IBN, embora esporadicamente ainda continuem a chegar verbas dos Estados Unidos.

Ao longo de quase quatro décadas da fase missionária, foram os seguintes os dirigentes do instituto: Edwin R. Arehart (1945, 1955-62), Charlotte Taylor (1946-48, 1950, 1952-54, 1963-64, 1972-78), Edla Gabriel de Oliveira (1949), Ann Farr Pipkin (1951, 1979), Aretuza Gueiros Pessoa (1965-70), Edna Teixeira (1971), Frank Musick (1979-82, 1984) e Paul Coblentz (1983). Além dos nomes já mencionados, outros missionários que trabalharam no IBN foram Alfreda Hinn, Charles Ansley, Douglas e Sheila Barrick, Ella Koroch, Elizabeth Musick, Farris McDaniel Goodrum, James Chang, James e India Maner, Mary Garland Taylor (irmã de Charlotte), Mary Sullivan, Olin Coleman, Adele Coblentz e Virginia Gartrell.

Após a nacionalização, o IBN teve como diretores os Revs. Ivaldo Buarque Calado, Lindberg Clemente de Morais, Maely Ferreira Vilela, Luiz Augusto Correa Bueno, José Ernando Pereira de Vasconcelos e Edson Dantas de Oliveira. Desde o início de 2011, esse cargo é exercido pelo Rev. Milton César Oliveira da Silva, um ex-aluno da casa. Atualmente o Conselho Deliberativo é composto pelos seguintes integrantes: Rev. Cilas Cunha de Meneses (presidente), Rev. Jadilson de Oliveira Silva (vice-presidente), Rev. Civaldo de Assis Almeida (secretário), Rev. Altino Firmino da Silva Júnior, Pb. Emídio George Gonzaga, Rev. Samuel Vitorino da Silva e Rev. Zenaldo Nunes de Andrade. Eles representam os Sínodos de Garanhuns (Rev. Samuel), Pernambuco (Rev. Cilas), Central de Pernambuco (Rev. Civaldo), Agreste Sul de Pernambuco (Rev. Zenaldo) e o Supremo Concílio (os demais).

O IBN oferece os seguintes cursos: Plantador de Igreja (CPI), com duração de três anos; Preparação de Obreiros (CPO), oferecido no mês de julho durante três anos, e Música Sacra (CMS), de dois anos. O internato tem capacidade para 55 alunos, embora até 70 sejam hospedados por ocasião do CPO. O pessoal é composto de 11 funcionários e 8 professores. A situação financeira é estável: embora não haja meios para a adequada manutenção e aperfeiçoamento da ampla propriedade, os recursos disponíveis são suficientes para as atividades regulares da escola. Passados quase 70 anos desde sua fundação, o IBN continua fiel ao propósito de preparar obreiros de ambos os sexos para servirem a causa de Cristo no Nordeste e em outras partes do Brasil.

   
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Reunião Ordinária do Presbitério de Garanhuns

Foto de Mariano Alves Junior.

Foto de Mariano Alves Junior.
Foto de Mariano Alves Junior.

Nos dias 16 e 17 de Fevereiro 2018 aconteceu a 57ª Reunião Ordinária do Presbitério de Garanhuns  nas dependência do Instituto Bíblico do Norte. Nos momentos devocionais contamos com a pregação do Pastor Inaldo Cordeiro e do Seminarista Alisson.

A nova direção do PGAR ficou composta dos seguintes membros: Presidente Pb. Alexandre Monteiro da IP Central, Vice-presidente Pr. Milton César da IP Heliópolis, Sec. Executivo Pr. Alexander Oliveira, 1 º Secretario Pr. Jan Marke da IV IP de Garanhuns, 2º Secretário Pr. Paulo Gustavo da IP Heliópolis e tesoureiro o Pr. José Hugo da IP Central de Garanhuns.

Os nossos secretários presbiteriais foram: Mocidade Pb. Júnior Vilela, SAF Pr. Jadson Cunha, UPA Pb. Wagner Filipe, UPH Pr. José Ernando, Evangelismo e Missões Pr. Mariano Alves, Secretaria de Idosos Pr. Irineu Ferreira, Secretaria de Surdos Luziane Machado e Secretaria de Apoio Pastoral Pr. Milton César

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

O trabalho pastoral é mais importante que os outros trabalhos?

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O texto abaixo foi retirado do livro “A Treliça e a Videira: A Mentalidade de Discipulado que Muda Tudo”, de Colin Marshall & Tony Payne (Editora Fiel, 2015), p. 150-151.

Ao desafiarmos pessoas quanto ao ministério do evangelho, há dois erros que usualmente cometemos. Um erro é criarmos duas classes de cristãos – aqueles que estão realmente trabalhando para o Senhor e procurando anunciar seu reino (os “trabalhadores do evangelho reconhecidos”) e o resto. Neste modelo, fazer discípulos é como uma equipe de Fórmula 1. Há apenas um piloto, e as demais pessoas envolvidas fazem seu pouquinho nos bastidores. Podem trabalhar nos boxes, podem ajudar a financiar a equipe ou podem achar patrocinadores e organizar os logotipos que deverão ser pintados nos carros. Mas o piloto é a estrela e o foco, e os demais membros da equipe são os rapazes dos bastidores. Não é surpreendente que eles se sintam como cidadãos de segunda classe.

Como já vimos, não é assim que a Bíblia concebe a obra do evangelho. Não há duas classes de discípulos – somos todos discípulos e fazedores de discípulos. Todos os cristãos são chamados a negar a si mesmos, tomar a sua cruz e seguir Jesus até a morte; a renunciar sua vida para a honra e o serviço de Cristo. Isso é mais semelhante a um time de futebol, no qual cada jogador faz tudo que pode para fazer a bola avançar pelo campo do adversário. Há líderes e capitães, mas, fundamentalmente e acima de tudo, cada um é um jogador. De fato, em muitos times, o capitão não é necessariamente o melhor jogador ou o contribuinte mais valioso em qualquer partida.

O segundo erro comum é reagirmos ao primeiro erro dissolvendo a distinção entre trabalho do evangelho e qualquer outro trabalho. Nesta maneira de pensar, o trabalho secular é “batizado” como trabalho para o reino de Deus. Por ser um médico, um advogado, um negociante ou um engenheiro de software melhor (ou, embora raramente, um coletor de lixo ou um assistente de estacionamento melhor), estou ajudando a “redimir a cultura” e contribuindo de alguma maneira para o crescimento do reino de Deus. Nesta maneira de pensar, não devemos tirar as pessoas de suas carreiras seculares; devemos incentivá-las a permanecer onde estão para a glória de Deus.

Entretanto, isto também é um engano. A obra do evangelho tem uma importância singular nos planos de Deus para o mundo. Não fazemos discípulos por construir pontes melhores, mas por levarmos dedicadamente a Palavra de Deus às pessoas. Este é o dever, a alegria e o privilégio de cada discípulo, em qualquer circunstância que ele esteja. O trabalho secular é valioso e bom e não deve ser desprezado ou menosprezado. Mas não é o centro ou o propósito de nossa vida, nem o meio pelo qual Deus salvará o mundo. Minha identidade primária como cristão não é que sou um contador ou um carpinteiro e sim um discípulo fazedor de discípulos do Senhor Jesus Cristo. É realmente de importância mínima se trabalho para obter meu próprio sustento como discípulo fazedor de discípulos ou se outros me sustentam por causa das exigências da obra de fazer discípulos que realizo. O fato importante é que todos nós somos, juntos, fazedores de discípulos.

A Treliça e a Videira

Fruto de 25 anos de trabalho, este livro esboça como trabalhar de perto com as pessoas, torná-las discípulos, ajudá-las a crescer e a florescer no ministério do evangelho e ficar ao lado delas em longo prazo.



Por: Colin Marshall & Tony Payne. © Editora Fiel. Website: EditoraFiel.com.br. Traduzido com permissão. Fonte: Extraído do livro: Colin Marshall & Tony Payne, A Treliça e a Videira – A Mentalidade de Discipulado que Muda Tudo.
Original: O trabalho pastoral é mais importante que os outros trabalhos? © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados.
 Colin Marshall estudou teologia na Universidade Moore, na Austrália; é diretor da organização Vinegrowers e conduz seu trabalho de treinamento e preparação de seus ministérios. Junto de sua esposa Jacquie, ele dedicou os últimos 30 anos no treinamento de homens e mulheres no ministério do evangelho no contexto universitário e de igrejas locais.

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