sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

IGREJA NO IRÃ CRESCE EM MEIO A DURAS PENAS, ISOLAMENTO E MEDO

Em 2018, o Irã prendeu, até o momento, mais de 55 cristãos por sua fé, condenando-os a longas penas. Como esta situação afeta a comunidade da igreja local?
Igreja no Irã cresce em meio a duras penas, isolamento e medo Mulher iraniana (foto representativa)

A prisão desnecessária e extraordinariamente violenta como a do pastor Yousef Nadarkhani é apenas um dos indicadores da intensificação da caça aos cristãos na República Islâmica. “O regime iraniano continua a violar a lei internacional sobre a liberdade de religião ou crença. Nos últimos quatro meses, cerca de 20 cristãos iranianos foram presos ou condenados à prisão. Há mais casos do que publicamos, pois alguns precisam ser mantidos em segredo para garantir a segurança da pessoa envolvida”, diz Kia Aalipour da Article 18, uma organização que advoga em favor dos cristãos iranianos.

A Article 18 observou que as sentenças de prisão dadas são altas. Amin Afshar Naderi, que se converteu do islamismo ao cristianismo, recebeu uma sentença de não menos de 15 anos. “O processo judiciário é mais longo e geralmente acontece com ameaças para coagi-los a deixar o país. Aqueles que recebem sentenças altas são cristãos que se recusam a ser intimidados e a deixar o país após suas primeiras detenções. No entanto, há sinais de que agora sentenças de prisão de 5 anos ou mais também são comuns para pessoas presas pela primeira vez”, diz Kia.

Kia explica por que ele acha que o governo está aumentando a pressão sob os cristãos: “O número de cristãos convertidos aumentou, e isso tem alarmado as autoridades iranianas; portanto, eles começaram a impor mais restrições às igrejas, especialmente àquelas frequentadas por cristãos de origem muçulmana. O governo também continua sua política de empobrecer ativamente os cristãos pedindo fianças exageradamente altas. ”

Sara, da Portas Abertas, diz que a situação atual é muito prejudicial para a igreja secreta no país: “O encarceramento afeta muito os cristãos. Eu encontrei cristãos cuja vontade de compartilhar o evangelho quase desapareceu após a sua prisão. Eles pareciam ter pouco ‘espaço na mente’ para qualquer coisa que não fosse o trauma que enfrentaram. Eles precisam lidar com o trauma antes de poderem dar os próximos passos, o que pode levar anos”.

Kia diz que o que os prisioneiros realmente precisam é dar sentido a sua experiência e encontrar um significado para seu sofrimento. “Alguns são considerados heróis por um dia ou dois e depois a solidão se instaura. Somente aqueles que encontraram um significado para o seu sofrimento e o veem como uma pequena parte da maior obra-prima de Deus sobrevivem e prosperam”.

Outro problema que Sara e seus colegas veem é o dos líderes cristãos locais: “O governo identifica líderes influentes, pressiona-os e, direta ou indiretamente, obriga-os a deixar o país. Se eles não saem do país, a chance de serem presos e levados para a prisão aumenta. As longas sentenças de prisão dadas recentemente aumentam essa pressão. Um resultado do êxodo de líderes experientes é que muitos jovens cristãos acabam em posições de liderança, também, cedo demais”.

A pressão sobre cristãos locais também é alta. Uma líder da igreja no Irã compartilhou: “Muitos cristãos no Irã estão feridos e cansados, sem consolo. Eles precisam ser renovados em sua fé. E, devido à situação econômica ruim em nosso país, muitos estão emigrando”.

Os que permanecem no país muitas vezes vivem isolados, com medo de se reunirem nas igrejas domésticas. “Isso é problemático, pois sabemos que os cristãos secretos veem a comunhão como um dos aspectos mais importantes de sua vida cristã, e dizem que precisam do apoio uns dos outros para ajudá-los a crescer”, diz Kia.

Contínuo crescimento, apesar das perseguições

Isso significa que a igreja secreta está morrendo lentamente e o regime é eficaz em sua abordagem? “Não” é a resposta firme de uma líder cristã. “Depois das prisões, a maioria dos membros da nossa igreja começou a falar às suas famílias com mais ousadia sobre Cristo, e muitos novos convertidos se juntaram a nós. E, apesar do que aconteceu, ainda nos encontramos e saímos em viagens de evangelização. Apesar de nossas fraquezas, Deus tem nos usado como suas mãos”.

“Embora nem todos os cristãos sejam tão corajosos quanto este evangelista, nós realmente recebemos indicadores do número de cristãos no Irã crescendo, apesar da situação. Mas o crescimento é frágil, especialmente nessa situação. A questão é, como esses novos cristãos crescerão sem a ajuda de uma igreja doméstica ou, se estiverem em uma igreja doméstica, com um líder inexperiente?”, diz Sara.

Apesar dos riscos, líderes da igreja secreta no país não perdem a esperança e continuam a lutar. “Sou grato por poder servir a Deus no Irã. Apesar de todos os problemas e dificuldades, a misericórdia e a graça de Deus estão sempre conosco. E nós somos gratos por aqueles de fora do Irã que nos apoiam – Deus tocou seus corações”, compartilhou um deles.

Outra líder confirma que a igreja secreta iraniana, mais do que nunca, precisa da igreja livre ao lado dela: “Em primeiro lugar, graças a Deus, que fortalece e protege seu corpo. E graças a Deus pelos corações que batem pelas outras partes do corpo; pelos “Arãos” e “Hurs” que Deus colocou além de Moisés (Ex 24); e para aqueles que estendem suas mãos a Deus para orar por um despertar espiritual”.

A Portas Abertas defende aqueles que estão presos por sua fé cristã no Irã e organiza seminários pós-trauma para ex-prisioneiros que agora, permanente ou temporariamente, vivem na Turquia.

Fonte: Portas Abertas

O SUS era o campo missionário de Roberto Kikawa

Roberto Kunimassa Kikawa

Roberto Kikawa queria ser missionário na África, mas tornou-se médico do Sistema Único de Saúde (SUS), onde encontrou várias “Áfricas” nos hospitais públicos de São Paulo. Membro da Igreja Holiness, queria honrar o chamado que Deus lhe deu e a promessa feita no leito de morte do pai: cuidar das pessoas. Fundou em 2008 o Centro de Integração de Educação e Saúde (CIES) – um projeto que leva atendimento médico especializado aos mais pobres por meio de carretas transformadas em unidades móveis. Mais de 2 milhões de pessoas já foram beneficiadas pelo projeto. Em 2010, Kikawa foi vencedor do Prêmio Empreendedor Social da Folha de São Paulo.
Na noite do dia 10 de novembro de 2018, Kikawa sofreu um assalto. Não reagiu, apenas pediu calma ao assaltante. Ainda assim, recebeu dois tiros e morreu aos 48 anos de idade. Uma semana antes, ele falou a empresários cristãos sobre sua fé e empreendedorismo social: “Podemos fazer diferença no mundo”.

Lissânder Dias é jornalista e colaborador da revista Ultimato. É editor do blog Fatos e Correlatos(fatosecorrelatos.com.br), onde publica poesias e crônicas. Trabalha como assessor editorial da UniCesumar, em Maringá (PR).

A ARMADURA DO CRISTÃO

Efésios 6.10-18
Na passagem que está diante de nós, Efésios 6:10-18, o apóstolo reúne todo o tema anterior da Epístola em um lembrete urgente sobre as solenes condições sob as quais a vida do cristão é vivida. Por uma ilustração gráfica, mostra que a vida do cristão é vivida no campo de batalha, pois não somos apenas peregrinos, mas soldados; não estamos apenas em um país estrangeiro, mas no território do inimigo.
A luta para a qual os filhos de Deus são chamados nesta vida, é aquela em que os próprios Cristãos recebem muitas feridas doloridas, e milhares de professos são mortos. Agora, como veremos nos versos que se seguem, o apóstolo nos adverte que o conflito tem relação com mais do que inimigos humanos: Os inimigos que devemos encontrar são sobre-humanos e, portanto, a fim de lutar com sucesso contra eles, precisamos de força sobrenatural. Devemos lembrar que o Cristão pertence ao reino espiritual, bem como ao natural, e por isso ele tem inimigos espirituais bem como naturais; e, portanto, ele precisa de força espiritual, bem como de física.
Todo o quinto capítulo e os versículos iniciais do sexto estão repletos de exortações; exortações estas que dizem respeito a cada aspecto da vida cristã; exortações para regula-a em casa, nos negócios, no mundo. Essas exortações são dirigidas ao marido, esposa, filho, mestre, servo, e para que o cristão as obedeça, ele precisa estar “fortalecido no Senhor e na força do seu poder”. Assim, a chamada que é feita no versículo 10 não é apenas uma introdução ao que se segue, mas também está intimamente relacionada com o que precede.
1-“FORTALECEI-VOS NO SENHOR” – “No demais, irmãos meus”, após todos os deveres Cristãos, que eu estabeleci diante de vocês no versículo anterior, agora “fortalecei-vos no Senhor, e na força do seu poder”. A palavra “fortalecei-vos” significa reunir forças para o conflito, e fortalecei-vos “na força do Senhor” significa que devemos buscar esta força a partir da única fonte de onde podemos obtê-la. Observem cuidadosamente que não é “fortalecei-vos do Senhor”, nem é “sejam fortalecidos pelo Senhor”. Não, é “fortalecei-vos no Senhor”.
Assim, “fortalecei-vos no Senhor” significa, antes de tudo, buscar com que você mantenha um vivo relacionamento prático e permaneça em constante comunhão com o Senhor.
As duas coisas principais que são necessários para alguém envolvido em combates são a força e a coragem, ou vitalidade e um coração valente; e é isso que está em vista no versículo 10 – a última proposição expressa a ideia de ousadia. “Fortalecei-vos”: na fé, na esperança, na sabedoria, na paciência, na fortaleza, em toda graça Cristã. Ser forte na graça é ser fraco no pecado. É extremamente essencial lembrar que precisamos ter a nossa força e coragem renovada diariamente. Ser forte no Senhor, buscar a Sua força, no início de cada dia – “os que esperam no Senhor renovarão as forças” (Isaías 40:31).
Os inimigos que temos que enfrentar não podem ser superados pela sabedoria humana e poder. A não ser que prossigamos adiante para o conflito olhando continuamente para Cristo por todos os suprimentos de graça necessários, derivando toda a nossa vitalidade dEle, temos a certeza de ser derrotados.
  1. “A ARMADURA DE DEUS” –“Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo” (versículo 11).
2.1-Nossa primeira necessidade é a de nos estimularmos a resistir à tentação por uma piedosa confiança na Graça toda-suficiente de Deus, isto é, obtendo dEle a força que nos permitirá ir adiante e lutar contra o inimigo.
2.2-Nossa segunda maior necessidade é estar bem armado para o conflito em que devemos entrar diariamente. Esta é a relação entre os versículos 10 e 11: “fortalecei-vos no Senhor” e “revesti-vos de toda a armadura de Deus”; em primeiro lugar, instiguem vocês mesmos a resistir à tentação, buscando força no início do dia para o conflito; então, busquem com que tomem para vós mesmos, revistam-se de toda a armadura de Deus.
O cristão está engajado em uma guerra. Há uma luta diante dele, portanto, a armadura é urgentemente necessária. É impossível que nós permaneçamos firmes contra as astutas ciladas do Diabo, a menos que usemos as provisões que Deus fez para nos habilitar a permanecer.
Agora é muito importante que reconheçamos que este termo “armadura” é uma ilustração, uma metáfora, e não se refere a algo que é material ou carnal. É uma expressão figurativa que denota as graças do cristão: as várias partes desta armadura representam as diferentes graças espirituais que devem proteger as suas várias capacidades; e quando nos é dito “revistam-se” da armadura, isto simplesmente significa que devemos exercitar e pôr em ação as nossas graças. Observem: “Revesti-vos de toda a armadura de Deus”, ou seja, evitando as ciladas do diabo; ou para usar a ilustração, assim exerçam todas as virtudes Cristãs de forma que nenhuma parte da alma esteja exposta ao inimigo.
Não há nenhuma defesa contra isso se nós não estivermos armados; ou para usar a figura, não há sucesso em resistir ao diabo, se nossas graças não estiverem em exercício. Por outro lado, não há nenhuma falha e queda diante disso se nossas graças estiverem saudáveis e ativas.
“Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (versículo 12). A introdução “porque” tem a força de “Pelo motivo de que”; o apóstolo está desenvolvendo a razão, o que praticamente equivale a um argumento, como a compelir à exortação recém-feita. Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, e não contra insignificantes inimigos humanos não mais fortes do que nós, mas contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século; portanto, a panóplia¹ de Deus é essencial. Isso é expresso para enfatizar o terrível conflito diante de nós. Não é alguém imaginário, e nem inimigos comuns que temos que enfrentar; mas espirituais, sobre-humanos, invisíveis. Os inimigos buscam destruir a fé e produzir dúvida. Eles procuram destruir a esperança e produzir desespero. Eles querem destruir a humildade e produzir orgulho. Eles procuram destruir a paz e produzir amargura e malícia. Eles procuram evitar o nosso gozo das coisas celestiais. Seu ataque não é sobre o corpo, mas sobre a alma.
  1. “FICAR FIRME” 
“Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes” (versículo 13). A introdução “portanto” implica na consideração ao fato de que temos que lutar contra esses poderosos inimigos invisíveis sobre-humanos, que nos odeiam com um ódio mortal e que procuram nos destruir; por isso, devemos nos apropriar e utilizar a provisão que Deus fez, para que possamos ficar e permanecer firmes. A primeira proposição do versículo 13 explica as palavras iniciais do versículo 11. No versículo 11 diz: “Revesti-vos”, façam uso de todas as defesas e armas adequadas para repelir os ataques e no versículo 13 diz: “tomai toda a armadura de Deus”; nós “nos revestimos” por “toma-la”, ou seja, por apropriação, tornando-a como nossa. “Para que possais resistir”, resistir é o oposto de ceder, desarmado, derrubado por tentações malignas; isso significa que defendemos o nosso campo, lutamos contra o mal e resistimos ao Diabo. “Para que possais resistir de ser no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes”; “ficar firmes” é o oposto de um sono preguiçoso ou uma fuga covarde. No Getsêmani eles não ficaram firmes, mas deitaram-se e dormiram no posto do dever. Não é de admirar que pouco depois eles “O abandonaram e fugiram”!
Agora isto coloca diante de nós a primeira das sete peças da armadura do Cristão que é mencionada nesta passagem. Primeiro, permitam-me alerta-los contra a carnalização desta palavra, pensando em algo que seja externo e visível, ou tangível. A figura do “cinto” é extraída de um costume bem conhecido em países orientais, em que as todas as pessoas usam esvoaçantes longas vestes exteriores até aos pés, o que poderia impedir os seus movimentos, ao caminhar, trabalhar ou lutar. A primeira coisa que uma pessoa faz, então, quando prestes a estar ativa, é cingir a veste exterior, que arrasta no chão, ao redor de sua cintura. Quando a peça não está cingida e pende para baixo, indica que a pessoa está em repouso. “Cingir” é, portanto, o oposto de preguiça e facilidade, seguindo a linha da menor resistência. Estejam cingidos com o cinto da verdade; eu acredito que aqui há uma dupla referência ou sentido na palavra “verdade”. Mas, primeiramente, eu quero dedicar-me ao que nós precisamos “cingir”.
  1. “O CINTURÃO DA VERDADE”
A couraça é para o coração, o capacete para a cabeça, para que, então, é o “cinturão”? A partir de qual figura é emprestada a referência da cintura ou lombos. Mas a que esta metáfora denota? Claramente, o centro ou norteador de todas as nossas atividades. E qual é este? Obviamente, é a mente. A mente é o norteador da ação; primeiro o pensamento, e, em seguida, a realização do mesmo. 1 Pedro 1:13 nos ajuda aqui: “Portanto, cingindo os lombos do vosso entendimento”. “Tendo cingidos os vossos lombos com a verdade” [Efésios 6:14]; isto não é tanto o nosso abraçar a verdade, quanto a verdade nos abraçando. Assim, a referência espiritual é a guarda e regulação dos pensamentos da mente. A mente “cingida” significa uma mente que é disciplinada; oposta de uma em que os pensamentos são autorizados a correr soltos e selvagens. Mais uma vez; os “lombos” são o lugar de força, assim é a mente. Se permitirmos que os nossos pensamentos e imaginações corram soltos, não teremos comunhão com Deus, e nenhum poder contra Satanás. Se os nossos pensamentos não são trazidos cativos, em obediência a Cristo, o Diabo, em breve ganha uma influência sobre nós.
“Tendo cingidos os vossos lombos com a verdade”. Penso que a palavra “verdade” referese, em primeiro lugar, à Palavra de Deus: “a tua palavra é a verdade” (João 17:17); Isso é o que deve regular a mente, controlar os pensamentos, dominar as imaginações; deve haver um conhecimento de fé na, amor pela, sujeição à Palavra de Deus. “Estai, pois, firmes, tendo cingidos os vossos lombos (a sua mente) com a verdade”. Agora, isto nos sugere a qualidade característica do adversário contra o qual somos chamados a nos armar. Satanás é um mentiroso, e só podemos enfrenta-lo com a verdade. Satanás prevalece sobre a ignorância por meio de dolo ou fraude; mas ele não tem poder sobre aqueles cujas mentes são reguladas pela verdade de Deus. “Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos; E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:31-32); “libertos” das armadilhas, poder e enganos de Satanás.
Penso que a palavra “verdade” aqui tem um segundo significado. Tomemos por exemplo o Salmo 51:6: “Eis que amas a verdade no íntimo”; a “verdade” aqui significa realidade, sinceridade. A verdade é o oposto da hipocrisia, fingimento, irrealidade. É por isso que o cinturão da verdade vem em primeiro lugar, porque se faltar, todo o restante é vão e inútil.
  1. “COURAÇA DA JUSTIÇA”
A segunda parte ou peça de armadura do Cristão é mencionada no versículo 14: “e vestida a couraça da justiça”. Em primeiro lugar, observem o conector “e”, o que sugere que há uma relação muito estreita entre a mente cingida com a verdade e o coração protegido com couraça da justiça. Todas essas sete peças de armadura não estão tão vinculadas, porém o “e” aqui entre as duas primeiras indica que elas estão inseparávelmente unidas. Agora, obviamente, a couraça da justiça é aquela proteção que precisamos para o coração. Este versículo é intimamente paralelo a Provérbios 4:23: “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração”, entendendo o “coração” como as afeições e a consciência.
Esta segunda parte da armadura, como eu já disse, está inseparavelmente ligada ao cinturão da verdade, pois a sinceridade de espírito e a santidade do coração devem caminhar juntas. É em vão que intencionamos o primeiro, se o último está ausente. Onde há genuína sinceridade de espírito, haverá e há, santidade de coração. Revestir-se da couraça da justiça significa manter o poder da santidade sobre as nossas afeições e consciência! Um versículo que nos ajuda a compreender isto é, Atos 24:16: “E por isso procuro sempre ter uma consciência sem ofensa, tanto para com Deus como para com os homens”. Aqui você tem uma ilustração de um homem que tomando para si, revestindo-se da “couraça da justiça”.
O cinturão da verdade deve enfrentar as malignas sugestões de satanás que contaminam a mente; a couraça da justiça é necessária para frustrar os seus esforços de corromper as afeições ou contaminar a consciência. Onde há uma consciência que nos reprova, então logo cairemos vitimados por outros ataques do diabo.
  1. “PREPARAÇÃO DO EVANGELHO DA PAZ”
Passando para a terceira peça da armadura: “E calçados os pés na preparação do evangelho da paz” (versículo 15). Talvez esta seja, dentre as sete peças da armadura, a mais difícil para entender e definir; e ainda assim, se apreendermos a primeira vista, que o Espírito Santo está usando uma figura de linguagem aqui, que a referência é ao que é interno mais do que é externo, espiritual, mas do que ao material, e também que Ele está seguindo uma ordem lógica, não deve haver muita dificuldade em determinar o que se compreende por calçados da paz. Assim como o cinturão da verdade tem a ver com a mente, a couraça da justiça com o coração, desta forma, os calçados para os pés são uma figura daquilo que diz respeito à vontade.
À primeira vista isso pode parecer improvável, e ainda assim, se pensarmos por um momento, seria óbvio que o que os pés são para o corpo, a vontade é para a alma. Os pés conduzem o corpo de lugar para lugar, e a vontade é o que dirige as atividades da alma; o que a vontade decide, isto é o que fazemos.
Agora, a vontade deve ser regulada pela paz do Evangelho. O que significa isso? Isso, se tornar reconciliado com Deus e em ter boa vontade para com os nossos semelhantes, o Evangelho é o meio ou instrumento que Deus utiliza. É-nos dito em Salmos 110:3: “O teu povo será mui voluntário no dia do teu poder”, o que significa muito mais do que eles serão dispostos a ouvir e crer nas boas novas do Evangelho. Aqui é trazido para o Evangelho, substancialmente, tudo o que estava contido na Lei moral e cerimonial. O Evangelho não é apenas uma mensagem de boas novas, mas um mandamento divino e regra de conduta: “Porque já é tempo que comece o julgamento (não “começará”, agora, não no futuro) pela casa de Deus; e, se primeiro começa por nós, qual será o fim daqueles que são desobedientes ao evangelho de Deus? (1 Pedro 4:17). Sim, o Evangelho é uma regra para submeter-se, um decreto divino que exige obediência: “Visto como, na prova desta administração, glorificam a Deus pela submissão, que confessais quanto ao evangelho de Cristo” (2 Coríntios 9:13). Essas palavras são absolutamente sem sentido hoje em nove de cada dez círculos de toda a Cristandade, pois o “Evangelho” não significa nada para eles, exceto “boas novas” – não há nada para estar “em submissão”! Isto é, em parte, o que eu tenho em mente ao dizer que é transportado para dentro e incorporada ao Evangelho a substância de tudo o que foi encontrado na Lei. Deixe-me colocar de outra forma: todas as exortações contidas nas Epístolas do Novo Testamento não são nada mais do que as explicações e aplicações dos Dez Mandamentos.
O Evangelho nos obriga a negar a nós mesmos, tomar a cruz diariamente e seguir a Cristo no caminho da obediência incondicional a Deus. “Calçados os pés na preparação do evangelho da paz” significa, com entusiasmo e prontidão, responder à vontade de Deus. A paz “do Evangelho” advém do caminhar em sujeição aos seus termos pelo cumprimento dos deveres que ele prescreve. Apenas na medida em que somos obedientes a ele, nós experimentalmente desfrutamos de sua paz. Assim, esta terceira parte da armadura deve fortalecer a vontade contra as tentações de Satanás de obstinação e desobediência, e isso, por submissão ao Evangelho. Assim como os pés são os membros que transportam o corpo de um lugar para outro, desta forma a vontade dirige a alma; e assim como os pés devem estar devidamente calçados, se quisermos andar correta e confortavelmente, assim, a vontade deve ser trazida em sujeição à vontade revelada de Deus, se quisermos desfrutar de Sua paz.
Que haja entrega completa e diária para consagração de nós mesmos a Deus e, então, nós seremos imunes aos ataques e às tentações de Satanás e da desobediência. Assim como o cinturão da verdade deve nos proteger dos esforços de Satanás para encher as imaginações, assim como a couraça da justiça é a provisão de Deus para nos proteger dos esforços de Satanás de corromper os nossos corações e produzir o que é profano; assim, tendo os pés calçados com a preparação do Evangelho de meios de paz, a vontade sendo trazida em sujeição a Deus, e isto nos protege das tentações de Satanás de desobediência.
  1. “ESCUDO DA FÉ”
Vocês observarão que quando chegamos à quarta parte da armadura, o “e” está ausente. As três primeiras estavam unidas, pois aquilo que é indicado por termos figurativos está inseparavelmente ligado entre si, a mente, o coração e a vontade; aí vocês têm o homem interior completo. “Tomando sobretudo o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno” (v. 16), eu penso que a palavra “sobretudo” têm uma força dupla. Em primeiro lugar, literalmente, a compreendo como uma preposição de lugar, ou seja, sobre tudo, cobrindo como uma capa, protegendo a mente, o coração e a vontade. Deve haver fé em exercício, se essas três partes do nosso ser interior devem ser guardadas. Em segundo lugar, “sobretudo” pode ser considerado adverbialmente, indicando principalmente: por excelência, supremamente. É uma coisa essencial que vocês devam tomar o escudo da fé, pois Hebreus 11:6 nos diz: “Ora, sem fé é impossível agradar-lhe”. Sim, mesmo se houver sinceridade, amor e uma vontade submissa, ainda assim, sem fé não podemos agradar-Lhe. Portanto, “sobretudo” tomem o escudo da fé.
A fé é a vida de todas as graças. Se a fé não estiver em exercício, o amor, a esperança e a paciência não podem estar. Aqui encontramos a fé sendo comparada a um “escudo”, por que esta se destina à defesa do homem inteiro. O escudo do soldado é algo que ele agarra, e levanta ou abaixa conforme a necessidade. Ele protege toda a sua pessoa. Agora, a figura que o Espírito Santo aqui utiliza em conexão aos ataques de Satanás, é retirada de um dos dispositivos dos antigos em sua guerra, ou seja, o uso de dardos que haviam sido mergulhados em alcatrão e incendiados, a fim de cegar seus inimigos; isto é o que está implícito na metáfora de “apagar todos os dardos inflamados do maligno”; o que está em vista são os esforços de Satanás para impedir o nosso olhar para o alto!
  1. “CAPACETE DA SALVAÇÃO”
“Tomai também o capacete da salvação” (versículo 17). Esta é a quinta parte da armadura do Cristão. Em primeiro lugar, notemos a ligação entre a quarta e a quinta peças indicadas pela palavra “e”, pois isso nos ajuda a definir o que é o “capacete da salvação”; ele está vinculado à fé! Hebreus 11:1 nos diz: “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam”, e se compararmos 1 Tessalonicenses 5:8 obtemos a confirmação deste pensamento: “Mas nós, que somos do dia, sejamos sóbrios, vestindo-nos da couraça da fé e do amor, e tendo por capacete a esperança da salvação”. Aqui em Tessalonicenses, portanto, temos a “esperança” diretamente ligada ao “capacete “.
Aliás, este versículo é um dos muitos no Novo Testamento, que coloca a salvação no futuro e não no passado! A esperança sempre olha adiante, relacionando-se com as coisas que virão; como Romanos 8:25 nos diz: “Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o esperamos. Ora, a fé e a esperança são inseparáveis; elas são uma em nascimento, uma em decadência. Se a fé definha, a esperança é apática.
Por capacete da salvação, então, compreendo a expectativa do coração das boas coisas prometidas, uma garantia bem fundamentada de que Deus bem fará ao seu povo aquelas coisas que Sua Palavra apresenta como realização futura. Podemos vincular com isto 1 João 3:3 – a esperança bíblica purifica. Isso liberta do descontentamento e desespero; isso consola o coração, no intervalo de espera. Satanás é incapaz de levar um Cristão muitos pecados grosseiros que são comuns no mundo, então ele ataca por meio de outras linhas. Muitas vezes, ele intenciona lançar uma nuvem de tristeza sobre a alma, ou produzir ansiedade sobre o futuro. O desânimo é uma de suas armas favoritas, pois ele sabe muito bem que “a alegria do Senhor é a nossa força” (Neemias 8:10), daí os seus esforços frequentes para amortecer os nossos espíritos. Para repelir estes, devemos “Tomai também o capacete da salvação”, ou seja, devemos exercitar a esperança – antecipar o futuro bem-aventurado, olhar em direção ao descanso eterno que nos aguarda; desviar o olhar da terra para o céu!
  1. “ESPADA DO ESPÍRITO”
“E a espada do Espírito, que é a palavra de Deus” (versículo 17). Deus supriu o Seu povo com uma arma ofensiva, bem como as defensivas. À primeira vista isso pode parecer entrar em conflito com o que dissemos sobre os Cristãos não serem chamados para serem agressivo contra Satanás, buscando invadir seu território e arrancá-lo dele. Mas este versículo não se contradiz ao menor grau. 2 Coríntios 7:1 nos oferece a ideia: “Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do espírito”; este é o lado ativo e agressivo de guerra do Cristão. Nós não devemos apenas resistir aos nossos desejos, mas subjugá-los. É importante notar o quão posteriormente a “espada do Espírito” é mencionada na lista. Alguns têm pensado que ela deveria ter vindo por primeiro, mas ela não é mencionada até o sexto. Por quê? Eu acredito que haja uma razão dupla. Em primeiro lugar, porque todas as outras graças que foram mencionados são necessários para fazer um bom uso da Palavra. Se não houver uma mente sincera e um coração santo, apenas lidaremos com a palavra de forma desonesta. Se não houver justiça prática, então nós apenas manusearemos a Palavra teoricamente. Se não houver fé e esperança, apenas a usaremos indevidamente. Todas as graças Cristãs que são figurativamente contempladas sob as outras peças da armadura devem estar em exercício antes que possamos manusear proveitosamente a Palavra de Deus. Em segundo lugar, isso nos ensina que, mesmo quando o Cristão tenha atingido o ponto mais elevado possível nesta vida, ele ainda precisa da Palavra. Mesmo quando ele tem sobre si o cinturão da verdade, a couraça da justiça, os pés calçados com a preparação do Evangelho da paz, e tomou para si o escudo da fé e o capacete da salvação, ele ainda precisa da Palavra!
A Palavra de Deus é aqui chamada de “a espada do espírito”, pois Ele é o Autor, o Intérprete e Aplicador da mesma. Ele é o único que pode conceder a ela poder sobre nós. Podemos manusear a Palavra, meditar nela, orar sobre ela, e ela não ter nenhum efeito sobre nós, a menos que o Espírito Santo aplique a Sua espada! Se vocês pensarem neste versículo à luz da tentação de Cristo, vocês descobrirão que Ele usou essa espada para defender-Se ao repelir os ataques do diabo; Ele não estava atacando agressivamente! E bem-aventurado também, é observar isso, como o Homem dependente, Ele usou essa arma no poder do “Espírito”; vejam Mateus 4:1, Lucas 4:14.
  1. “ORAR SEMPRE”
A última peça da armadura é oferecida no versículo 18: “Orando em todo o tempo com toda a oração e súplica no Espírito, e vigiando nisto com toda a perseverança e súplica por todos os santos”. A oração é a única que nos concede a força necessária para usar as outras peças da armadura! Depois que o Cristão tomou para si essas seis peças, antes que ele esteja completamente equipado para sair para a guerra e capacitado para a vitória, ele precisa da ajuda de seu General. Por isso, o apóstolo nos ordena a orar “sempre” com toda a súplica no Espírito. Devemos lutar sobre os nossos joelhos! Somente a oração pode manter vivas as diferentes graças espirituais que são ilustradas pelas várias peças de armadura. “Orando em todo tempo”; em cada temporada; em tempo de alegria bem como de sofrimento, no dia da adversidade, bem como na prosperidade. Não apenas isso, mas “vigiando nisto com toda a perseverança”; este é um dos elementos essenciais da oração que prevalece – a persistência. Vigiem a si mesmos para que não arrefeçam, tornem-se descuidados ou desanimados. Prossigam! O versículo 18 é como se o apóstolo dissesse: “Não se esqueçam de buscar a Deus por esta armadura e façam súplica humilde por Sua assistência; pois somente Ele que nos concedeu estas armas pode nos permitir fazer um uso bem sucedido delas”. Alguns o chamaram de “todo o versículo”. “Orando em todo o tempo com toda a oração… com toda a perseverança e súplica por todos os santos”! Não pensem apenas em vocês mesmos, mas também por seus soldados companheiros, que estão engajados no mesmo conflito!
Pergunta: o que o versículo 12 significa? Resposta: não se refere à esfera ou ao local aonde a “luta” em si é realizada, mas enfatiza o fato de que os inimigos que atacam os Cristãos são sobre-humanos. Não devemos interpretar este versículo a partir da linguagem geográfica da Terra; ele não diz: “porque nós temos que lutar contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais”. Não, as regiões celestiais vinculam-se àqueles que atacam os Cristãos, e não com o local onde a luta é realizada.
Resumo de A. W. Pink

Por que a igreja deve participar ativamente da evangelização do mundo?



por Rev. Paulo Serafim | Missionário da APMT/IPB na Guiné-Bissau, África Ocidental.
O evangelista João, no capítulo 4 do seu evangelho, registra o famoso encontro de Jesus com a mulher samaritana. Jesus estava caminhando para a Galileia e passou por Samaria, caminho que era evitado pelos judeus, pois estes consideravam os samaritanos impuros. Mas como Jesus tinha o propósito de evangelizar uma mulher que necessitava da graça de Deus foi por aquele caminho.
Chegando a cidade de Sicar, onde havia uma fonte de água, vendo uma mulher que se aproximava, Jesus lhe pediu água e se apresentou como a água da vida, que saciaria a sua sede espiritual; isto é, sua necessidade de perdão e vida eterna. Entendendo que Jesus era o Messias, o enviado de Deus que judeus e samaritanos aguardavam, saiu correndo para a sua cidade contar as boas novas para seus conterrâneos. Neste intervalo, apareceram os discípulos pedindo para Jesus comer.
Assim como levou a mulher a compreender realidades espirituais, a partir de realidades físicas, Jesus também chama a atenção dos discípulos, a partir da colheita física para a colheita espiritual, para a evangelização do mundo. Pensando nisso, chamo sua atenção para o tema deste artigo: Por que a igreja deve participar ativamente da evangelização do mundo?[1] Primeiro, porque a evangelização é prioridade para Jesus.
No verso 31, do capítulo 4, João escreve: “Nesse interim…”, no intervalo de tempo entre a conversa de Jesus com a mulher e a sua ida à cidade afim de pregar para os moradores da cidade, os discípulos apareceram e rogaram para que Jesus comesse. Jesus respondeu aos discípulos, falando de outra comida, do alimento espiritual, porém, os discípulos que não presenciaram a conversa de Jesus com a mulher, não entenderam o que ele estava falando.
Foi nesse ponto que Jesus disse no verso 34: “A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra”. Jesus tinha um propósito a realizar: consumar a obra da redenção, salvando o seu povo pela sua morte e ressurreição. A sede e a fome física que tinha como homem não era mais importante do que o desejo de alimentar os famintos espirituais. Sua prioridade era salvar e buscar o perdido. Por isso, ia por toda a parte pregando o evangelho do reino, curando os enfermos e libertando os cativos do demônio.
Como Jesus, temos priorizado a evangelização? Temos priorizado a salvação dos nossos familiares, amigos e vizinhos que caminham como ovelhas que não têm pastor? Temos investido tempo, dons, oração, dinheiro e amor para alcançar pessoas que estão perto e longe de nós? Temos nos preocupado com as pessoas sem Cristo na nossa cidade, com os povos indígenas brasileiros, com aqueles que estão na cegueira espiritual no mundo islâmico, na Guiné-Bissau e no mundo?
Assim como Jesus, participemos da evangelização, pois segundo, ela é algo prioritário. Por isso, não podemos deixá-la de lado. Testemunhe para seus familiares, amigos e vizinhos. Ande com folhetos para distribuir. Convide pessoas para ouvir a Palavra de Deus nos cultos da igreja. Ore pela evangelização do mundo, invista financeiramente através dos dízimos e ofertas. A igreja também deve oferecer cursos, oficinas sobre evangelização, viagens missionárias e programar trabalhos evangelísticos com toda a igreja. Só que precisamos entender que evangelizar é um estilo de vida, é algo que deve ser feito todo dia e não somente quando tem um trabalho evangelístico realizado pela igreja.
A segunda razão porque a igreja deve participar ativamente da evangelização do mundo é que ela é urgente para Jesus. Jesus interpelou os discípulos: “Vocês dizem que faltam 4 meses para a colheita”. Era dezembro e a colheita acontecia em abril ou começo de maio. Eu, porém, vos, digo: erguei os olhos e vede os campos que já branquejam para a ceifa”. Na mente de Jesus, existe uma proximidade muito grande, embora também haja um contraste entre a colheita física e a espiritual. Devemos lembrar que nessa hora, Jesus e os discípulos contemplavam uma multidão de samaritanos que vinham até ele pelo testemunho da mulher samaritana. [2]
A colheita de grãos demoraria 4 meses, mas a colheita das almas já estava na hora. Ela era urgente, necessária e oportuna. Não havia necessidade de esperar para amanhã. As pessoas estão prontas para serem evangelizadas, para receberem as boas novas. Esse é o tempo da colheita, da evangelização. Até a volta de Cristo, temos a oportunidade de evangelizar o mundo. É algo que se deve fazer rápido, de forma urgente. Não podemos esperar.
Como diz uma música cantada nas igrejas guineenses, na língua Crioulo: “Ka bu pera amanhã camarada”, que significa: “não espere amanhã meu amigo”, amanhã pode ser muito tarde”. O dia é hoje, tanto da evangelização quanto da entrega da sua vida para Jesus. “Passa a Macedônia é ajuda-nos, continua sendo o clamor dos povos sem Cristo. Um fato comum que os missionários ao redor do mundo têm relatado é a indagação das pessoas que ouvem o evangelho pela primeira vez: “Por que vocês demoraram tanto para trazer essas boas novas ao nosso povo? Como ficarão nossos antepassados que morreram sem Cristo?”
Eu dei aula de evangelismo no curso de formação missiológica (CFM), e lá constatei que muitos alunos vieram de igrejas que não lhes deram nenhum treinamento de evangelismo. Quando não há ensino, treinamento, incentivo e exemplo por parte da liderança, fica difícil os membros perceberem a importância e a urgência da evangelização. Portanto, a começar dos líderes, despertemos nossos membros para a prioridade e a urgência da evangelização do Brasil e do mundo.
A terceira razão porque a igreja deve participar ativamente da evangelização do mundo é que ela é o instrumento de Jesus para essa tarefa. Quando Jesus disse: erguei os olhos e ponderar no espetáculo da aproximação dos samaritanos, bem como para considerar aquele grupo como um campo pronto para a colheita, isso indica claramente que o Senhor Jesus os está enviando para fazer essa colheita.[3] No verso 38, ele fala: “Eu vos enviei para ceifar”. No texto de Mateus 9, Jesus diz que a seara é grande e poucos são os trabalhadores, por isso, encoraja os discípulos que orem, pedindo mais trabalhadores. No capítulo 10 do mesmo livro, vemos o envio dos 12. Logo, a solução de Cristo para a grande colheita que é a evangelização do mundo são os seus discípulos, são seus seguidores, é a igreja, somos nós.
Jesus já havia comparado a evangelização do mundo a uma grande pescaria, por isso, transformou seus discípulos de pescadores de peixes em pescadores de homens. Agora ele compara a evangelização a uma grande colheita, onde seus servos, a igreja são os ceifadores, seus trabalhadores para cumprimento do seu propósito salvador no mundo. Portanto, nós somos o instrumento de Jesus para colher, para evangelizar o mundo.
Tanto a pescaria quanto a colheita exigem trabalho árduo, preparação, tempo, esforço e investimento. A disposição do nosso coração, a nossa vida, o nosso dinheiro entregue aos pés do Senhor, a nossa oração pela salvação dos pecadores, o trabalho dedicado de todos os membros da igreja na obra do Senhor, a pregação do evangelho na dependência do Espírito, são necessários para que esta grande colheita tenha êxito. Jesus poderia usar outro instrumento para fazer a grande colheita, mas ele preferiu usar a minha e a sua vida. Que grande privilégio e responsabilidade temos como igreja de Jesus.
Somos chamados a trabalhar na sua obra para que ela avance no mundo, como nos diz o hino 312, do nosso hinário: “Há trabalho certo para ti cristão, que demanda toda a tua devoção, vem alegremente, a Cristo obedecer, pois só tu, ó crente, o poderás fazer… Quantos há, sem a salvação, quantos que precisam de consolação! Como Cristo os ama, faze-os entender, pois só, tu o crente, o poderás fazer”.
A quarta razão porque a igreja deve participar ativamente da evangelização do mundo é que ela traz alegria tanto para Jesus quanto para a igreja. Jesus fala da alegria tanto dele, o semeador, quanto dos discípulos, os ceifeiros. Há alegria e recompensa para ambos. Jesus se alegra com os pecadores arrependidos se voltando para ele e nós nos alegramos vendo vidas sendo transformadas por Jesus e recebendo principalmente a vida eterna, inclusive nós. Uma das maiores alegrias depois da nossa salvação é ser instrumento para a salvação de outras pessoas. Já imaginou a alegria de chegar no céu e ver muitas pessoas que evangelizou? Já imaginou a alegria de Jesus?
Os discípulos se alegrariam em colher frutos que eles não plantaram em Samaria. Outros tinham semeado lá como Moisés que plantou a esperança messiânica na mulher samaritana, Jesus que a evangelizou e a mulher samaritana que se tornou a primeira missionária do Novo Testamento. No reino espiritual é comum que um colha o que outro semeou. Cada um de nós é ao mesmo tempo um ceifeiro, colhendo frutos que outras plantaram e um semeador da semente que produzirá uma colheita que outros irão colher. Por isso, tanto o semeador quanto o ceifeiro se alegram com esse plano divino: sempre haverá um campo para ser colhido.
Quando cheguei na Guiné-Bissau, um mês depois já estava batizando cerca de 20 pessoas que foram evangelizadas e discipuladas por meus antecessores. Colhi o que não plantei. No ano seguinte estávamos ordenando o primeiro pastor presbiteriano guineense: Malam Sanhá, em 26 de março de 2012. Tudo isso trouxe alegria para mim, para a igreja, para os nossos parceiros, para a AMPT e, principalmente para Jesus.
Em algumas igrejas não tem havido nova semeadura, só colheita. Com o tempo não haverá mais colheita. Não haverá mais crianças para serem ensinadas, não haverá mais adolescentes e jovens para professarem a fé, nem novos convertidos para serem batizados. A melancolia e a tristeza tomarão conta dessas igrejas, consequentemente haverá diminuição de membros e, até o fechamento das portas como igreja local, fato que já ocorre com frequência na Europa, EUA e agora com forte tendência no Brasil.
Discorri sobre a importância da igreja participar ativamente na evangelização do mundo. Apresentei quatro razões para isso: A evangelização é prioridade para Jesus; a evangelização é urgente para Jesus; a igreja é o instrumento de Jesus para a evangelização do mundo; e, a evangelização traz alegria tanto para Jesus quanto para a igreja. Acima de tudo, segundo toda a Bíblia, a evangelização glorifica a Deus e abençoa o mundo com a graça do evangelho de Jesus. Por isso, como igreja de Cristo, participemos ativamente da evangelização do mundo. Entregue sua vida a Jesus, seus dons, seu tempo, seu dinheiro, suas orações, seu testemunho e sua disposição de servi-lo, afim de que Cristo seja conhecido, vidas sejam salvas, Deus receba glória e nós nos alegremos, juntamente com ele.


[1] O texto bíblico que este artigo se baseia é: João 4.31-38.
[2] HENDRIKSEN, William. O evangelho de João. São Paulo, Cultura Cristã, 2004, p.232-233.
[3] HENDRIKSEN, 2004, p. 233.
Fonte: Site da APMT

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

No dia 15 de Novembro de 2018, 0 Colégio Presbiteriano XV de Novembro completou 118 anos.

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No dia 15 de Novembro de 2018, 0 Colégio Presbiteriano XV de Novembro  completou 118 anos. Ore, divulgue e participe.

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Vista completa do Colegio XV.

História!
Antes dos idos de 1900, um casal de missionários Norte-americanos aportou em Pernambuco, trazendo a mensagem salvadora do Evangelho do Nosso Senhor Jesus Cristo, como muitos outros que, a partir do grande pioneiro Anshbel Green Simoton, ao Brasil viriam com essa finalidade, desde o século anterior. Chamavam-se William e Rena Butler.
Cedo reconheceram a necessidade de, além do trabalho missionário que vieram fazer, dar instrução a um grupo de moços que haviam conhecido e aceitado o Evangelho da graça de Cristo. Aspiravam estudar para o Ministério nesta aprezivel e cativante cidade de Garanhuns. O casal resolveu ministrar ao grupo lições de diversas disciplinas, acalentados pelo sonho de vê-los educados e prontos para a vida.
Se, por um lado havia sonho e trabalho do médico Dr. William Butler, pastor dedicado, pregador entusiasta da Palavra, por outro, os jovens, desejosos de adestrarem cultural e espirituosamente suas vidas, correspondiam em todos os aspectos às expectativas e ansiedades do casal. William e Rena prosseguiram o ideal com alegria, permeada de incertezas. Fundar uma escola a partir destas ações foi a bendita centelha aparentemente inexpressiva que viria a medrar e a brilhar, pela graça de Deus, nos corações daqueles primeiros abnegados servos, dedicado no trabalho do Ministério da Pregação e do Magistério. Parecia até inacreditável aos olhos de muitos, um estrangeiro lançar-se a tão ingente empreitada.
O idealismo do Dr. William Butler, secundado pela compreensão de sua esposa, D. Rena, provaram-no através destas histórias, bem ao contrário do que pensavam os indiferentes.
A benfaseja somente da instrução havia sido lançada para uma próspera colheita no porvir. Mas ninguém trabalha só na obra do Senhor. E Deus tinha preparado outros companheiros que cedo viriam ajudar o Dr. Butler no seu ideal. O sonho dele logo veio a ser alimentado com o convite feito - e aceito - ao Reverendo Martinho de Oliveira para ajudar e continuar aquela senda: levar o ensino educacional, com a marca do Evangelho, que já desabrochava vigorosamente em Garanhuns. A motivação inicial de fundar uma escola organizada permanecia na mente dos rapazes e moças que estudavam ainda com o casal Bluter. Precisavam ter agora orientação pedagógica para os filhos dos evangélicos da Cidade, que já eram numerosos.
Ainda na primeira década deste século, os Bluter foram para Canhotinho e fundaram naquela cidade um hospital. Em Garanhuns, com o Reverendo Martinho de Oliveira, continuaram todos os trabalhos. A escola já funcionava a pleno vapor. Abria as suas portas a tantos quantos solicitassem. Não fazia restrições de pessoas, nem de elasses. O ensino era para todos, independente do credo religioso. Com o novo século, surgia em Garanhuns uma nova época. Um novo limiar do ensino e da educação. O embrião do Colégio Quinze estava pronto para medrar. Vários outros professores se aproximavam do entusiasmo do reverendo Martinho de Oliveira, dando a sua vida com denodado sacrifício por ter, ali em Garanhuns, um fecundo estabelecimento de ensino, para servir a DEUS, à Pátria e a Garanhuns.


Para fazer um passeio virtual completo pelo Colégio, clique no link: https://goo.gl/maps/uKrMCJjcqHA2 
Texto extraído do livro Colégio QUINZE, 100 anos servindo a Deus, à Pátria e a Garanhuns (URBANO VITALINO e MARCILO REINAUX, 15 DE NOVEMBRO DE 1999).

A Vida do Rev. José Manoel da Conceição

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Por Alderi Souza de Matos

José Manoel da Conceição nasceu na cidade de São Paulo em 11 de março de 1822, tendo sido batizado treze dias depois. Era filho do português Manoel da Costa Santos e da brasileira Cândida Flora de Oliveira Mascarenhas. Dois anos mais tarde, a família mudou-se para Sorocaba, onde o menino foi criado e educado por seu tio-avô, o padre José Francisco de Mendonça. Desejoso de seguir o sacerdócio, foi para São Paulo, onde freqüentou o curso anexo da Academia Jurídica e estudou teologia (1840- 1842). Conheceu o frei Joaquim do Monte Carmelo, que foi seu amigo e defensor até o final da vida. Em abril de 1842 recebeu as ordens menores da Igreja Católica, inclusive a de subdiácono. Pouco depois, ele e o tio-avô apoiaram a Revolução Liberal, o que retardou a sua ordenação. Passou a exercer as suas atividades religiosas em Ipanema, localidade próxima de Sorocaba, onde foi instalada a primeira fundição de ferro do Brasil.

Desde os dezoito anos travou contato com a Bíblia, descobrindo conflitos entre os seus ensinos e certas práticas e doutrinas católicas. Certa vez, ao repreender o seu professor de desenho, o francês Carlos Leão Baillot, por tê-lo visto andar na igreja com o boné na cabeça, ouviu dele palavras que nunca esqueceu: “Menino, aprende em tua Bíblia a distinguir a alegoria da religião. O fim da Bíblia é ensinar-nos a amar a Deus sobre tudo e depois amarmo-nos uns aos outros como bons irmãos, filhos de um só Pai que está no céu. Ouves, meu menino?” Relacionou-se com protestantes e sentiu-se atraído por eles, levado pelo bom testemunho de suas vidas religiosas. Em Ipanema, visitou a família inglesa Godwin e as casas dos alemães, impressionando-se com a maneira respeitosa como guardavam o domingo e com a prática da leitura da Bíblia e de livros religiosos. Fez amizade com o médico dinamarquês Dr. João Henrique Teodoro Langaard, com quem aprendeu alemão, história e geografia.

Em 1844 e 1845, Conceição foi sucessivamente ordenado diácono e presbítero da Igreja Romana, sendo enviado para Limeira. Começou a pregar mensagens evangélicas e a incentivar o povo a ler a Bíblia, sendo apelidado de “padre protestante”. Preocupado com a situação, o bispo D. Manoel Joaquim Gonçalves de Andrade passou a transferi-lo com freqüência de uma paróquia para outra: Piracicaba, Monte-Mór, Limeira outra vez, Taubaté, Ubatuba, Santa Bárbara e por fim Brotas, onde chegou em 1860. Nesses anos, Conceição traduziu para os editores protestantes do Rio de Janeiro, os irmãos Laemmert, algumas obras que também o influenciaram, como a Nova História Sagrada do Antigo e Novo Testamento, traduzida em Ubatuba (1856). Esses editores faziam vir da Europa livros que ele encomendava e lhe ofereciam outros, conhecendo as suas tendências reformistas.

No primeiro semestre de 1863, Conceição escreveu ao novo bispo, D. Sebastião Pinto do Rego, sobre as suas lutas espirituais e foi nomeado vigário da vara, um cargo administrativo sem funções sacerdotais. Comprou um sítio junto ao rio Corumbataí, perto de Rio Claro, para onde se mudou. No final do mesmo ano, recebeu a visita do Rev. Alexander Latimer Blackford, missionário presbiteriano que acabara de mudar-se para São Paulo e ouvira falar do padre que tinha idéias protestantes. Seguiu-se uma correspondência assídua entre os dois, até que, no dia 19 de maio de 1864, Conceição chegou a São Paulo para encontrar-se com Blackford. Conheceu a esposa deste, Elizabeth, que o convidou sem rodeios a se tornar protestante. Depois de várias palestras longas e proveitosas com o missionário, o sacerdote voltou para casa no dia 24 decidido a abraçar a fé evangélica. Na volta, passou por Campinas e levou a irmã Gertrudes do Amaral – Tudica (1849-1923), com apenas quinze anos, que fora educada pela família Bierrenbach. Foram para Rio Claro, onde Gertrudes se casou no início de junho com José Rufino de Cerqueira Leite – Nhô Zé (1844-1907), irmão do futuro pastor Antônio Pedro.

No dia 23 de setembro, Conceição tornou a ir a São Paulo e foi hospedado por Blackford. Dois dias depois, um domingo, participou pela primeira vez de um culto protestante. No dia 28, obteve uma audiência com o bispo e lhe comunicou que estava deixando o sacerdócio e a Igreja Católica Romana. Uma semana mais tarde, em 4 de outubro, partiu com o missionário para o Rio de Janeiro, deixando em mãos de um amigo a carta de renúncia que devia ser entregue a D. Sebastião. Sua chegada à capital do império causou sensação e quando pregou pela primeira vez, no dia 9, a sala ficou repleta. Fez amizade imediata com o Rev. Ashbel Simonton, que ainda sentia a morte da esposa ocorrida há três meses. No dia 23 de outubro de 1864, Conceição fez a sua pública profissão de fé e foi batizado pelo Rev. Blackford. O Rev. Simonton proferiu breves palavras e o ex-padre explicou aos presentes o passo que havia dado. A série de conferências que fez foi o seu primeiro trabalho como evangélico. Sendo culto e eloqüente, a sua conversão causou consternação no clero católico. Passou a colaborar com os missionários na redação do jornal Imprensa Evangélica, cujo primeiro número foi lançado ao público no dia 5 de novembro.

Pouco depois, sem avisar, Conceição partiu repentinamente, regressando a Brotas, onde viviam a irmã Gertrudes e seu esposo José Rufino. Debatia-se com uma grave crise de consciência por causa da sua vida anterior. Depois de algumas viagens com os missionários e de muitos esforços pacientes dos mesmos no sentido de tranqüilizá-lo, superou o sentimento de culpa que o atormentava. Foi então, em meados de 1865, que escreveu a sua bela e inspiradora Profissão de Fé Evangélica. No dia 13 de novembro daquele ano, graças ao seu trabalho evangelístico e à colaboração dos missionários, foi organizada a Igreja Presbiteriana de Brotas, a primeira do interior do Brasil. Blackford recebeu por profissão de fé onze pessoas da família Gouvêa e batizou dez crianças. Conceição apresentou a mensagem e fez uma tocante oração de encerramento.

Nos meses seguintes foram recebidos na igreja vários familiares seus, inclusive Gertrudes e José Rufino, bem como outros membros da família Cerqueira Leite. Desde fins de 1863, Conceição vinha distribuindo folhetos e Bíblias em Brotas e expondo suas dúvidas e novas convicções às famílias Gouvêa e Cerqueira Leite. Em abril e maio de 1865 acompanhara o Rev. George Chamberlain em Brotas e em outubro e novembro, o Rev. Blackford, pregando e ensinando na vila e nos sítios. Outro irmão do ex-padre que veio a se converter foi Venceslau da Costa Santos (Nhô Lau), nascido em 28 de setembro de 1846, que foi presbítero, residiu em Boa Vista do Jacaré e outros locais, e faleceu na Fazenda Olivete, em Torrinha, em junho de 1941. Era casado com Adelaide, filha de Remígio de Cerqueira Leite, um dos irmãos de Antônio Pedro.

No dia 16 dezembro de 1865, os Revs. Simonton, Blackford e Francis Schneider organizaram na cidade de São Paulo o Presbitério do Rio de Janeiro, composto das Igrejas do Rio, São Paulo e Brotas. José Manoel da Conceição foi examinado acerca das suas convicções e considerado apto. No dia seguinte, um domingo, pregou pela manhã o sermão de prova sobre Lucas 4.18-19 e à tarde foi ordenado ministro do evangelho. Blackford fez as perguntas de praxe e Simonton discursou com base em 2 Coríntios 5.20, saudando e exortando o novo pastor. Pouco depois da sua ordenação, Conceição deu início às suas famosas viagens evangelísticas, que eventualmente o levaram até Itapeva (sul de São Paulo), Brotas (oeste), Campanha (sul de Minas) e Barra do Piraí (Vale do Paraíba). Visitou as cidades e vilas onde havia sido pároco e muitas outras, plantando as sementes de futuras igrejas. O Rev. George Landes, em um folheto sobre a evangelização do Paraná, diz que certa vez Conceição visitou a vila de Castro, onde uma de suas irmãs era professora, e pregou em Ponta Grossa.

Em 28 de fevereiro de 1866, dois meses e meio após a ordenação, Conceição partiu de São Paulo pela estrada do sul, passando por Cotia, Una, Piedade, São Roque e Sorocaba, e retornou à capital. A seguir, foi novamente a Sorocaba, onde pregou por muitos dias a auditórios sempre crescentes, e distribuiu Bíblias, folhetos e muitos exemplares daImprensa Evangélica. O primeiro culto foi realizado na casa da família Bertoldo. A seguir, Conceição foi a Porto Feliz, Rio Claro e Brotas, onde pregou na companhia de Schneider e Chamberlain. Após recuperar-se de um problema de saúde, foi para Rio Claro, onde muitas pessoas o ouviram, inclusive o vigário local. Esteve em Limeira, Campinas, Belém de Jundiaí (Itatiba) e Bragança, onde Blackford foi encontrá-lo em 25 de maio. Pregaram a auditórios de cem a duzentas pessoas, sem incidentes. Voltando a São Paulo, tomou a estrada do Rio de Janeiro no início de junho, passando pela Penha, São Miguel, Jacareí e São José dos Campos. Pregou a muitas pessoas no Hotel Figueira, sendo essa possivelmente a primeira vez que a fé evangélica foi anunciada naquela cidade. A seguir passou por Caçapava, Taubaté (onde fora vigário), Pindamonhangaba, Aparecida, Guaratinguetá, Lorena, Queluz, Resende, Barra Mansa e Piraí, onde tomou o trem, chegando ao Rio em 29 de junho para a reunião do presbitério, ao qual prestou relatório. Todo esse enorme trabalho foi realizado em apenas quatro meses, sendo a maior parte do trajeto percorrida a pé.

No ano presbiterial de 1866-1867, após retornar a São Paulo, pregou nas cidades onde já estivera e em muitas outras. Escrevendo em 30 de agosto, o aspirante ao ministério Antônio Pedro afirmou: “O nome do padre José Manoel está espalhado pelo universo; não há lugar onde se passe que não falem em seu nome”. Passou dois meses em Brotas, que também recebeu a visita de Blackford, Emanuel Pires e Schneider. Em janeiro e fevereiro de 1867, visitou vários pontos do Vale do Paraíba na companhia de Blackford. Em março, seguiu para Minas Gerais na companhia de Miguel Torres, visitando Ouro Fino, Borda da Mata, Pouso Alegre e Santana do Sapucaí. Em Borda da Mata, pregou três vezes no sítio de Antônio Joaquim de Gouvêa, parente dos crentes de Brotas. As sete reuniões realizadas em Pouso Alegre foram muito concorridas. Em 23 de abril de 1867 o jornal Correio Paulistano publicou a “Sentença de Excomunhão e Exautoração” contra o ex-padre. No mês seguinte, os jornais publicaram a resposta do Rev. Conceição, um verdadeiro manifesto evangélico. Em junho ele publicou a sentença e a respectiva resposta em um livreto que teve grande divulgação. Seguiu então novamente para o Rio de Janeiro. Tendo chegado pouco antes da reunião do presbitério (11 a 16 de julho), pregou em Copacabana, São Cristóvão, Cascadura, Maxambomba, Macacos e Serra, estações da estrada de ferro. Na reunião presbiterial, leu um texto intitulado “O Brasil necessita da pregação do evangelho?”

Como a sua saúde inspirava cuidados, os missionários o incentivaram a ir aos Estados Unidos, o que ele fez no início de agosto, lá permanecendo quase um ano. Partiu em 3 de agosto no navio Eclipse e chegou a Nova York em 12 de setembro. Apresentou ao Dr. David Irving, secretário da Junta de Missões, uma carta de recomendação de Simonton, e passou alguns dias com Chamberlain, que angariava donativos para a construção do templo do Rio. Este o levou para conhecer as igrejas portuguesas de Springfield e Jacksonville, no Illinois, nas quais Conceição trabalhou durante oito meses e onde aplicou os seus conhecimentos de medicina. Iria corresponder-se com essas igrejas até pouco antes do seu falecimento. As mesmas haviam enviado ao Brasil o Rev. Emanuel Pires e logo enviaram os Revs. Robert Lenigton e João Fernandes Dagama. Nessa estadia nos Estados Unidos, Conceição fez a revisão de uma tradução do Novo Testamento para a Sociedade Bíblica Americana e traduziu artigos e folhetos para a Sociedade Americana de Tratados. De regresso a Nova York, Irving e Chamberlain o acompanharam ao vapor Mississippi, no qual embarcou no dia 23 de junho de 1868, chegando ao Rio de Janeiro em 20 de julho. No dia 1° de agosto, embarcou com Blackford e Schneider para Santos, a fim de participar da reunião do presbitério em São Paulo (5 a 8 de agosto).

Após a reunião presbiterial, Conceição tomou o caminho do sul, passando por Cotia, São Roque, Sorocaba, Campo Largo, Alambari e Itapetininga. No início de outubro retornou a São Paulo e foi para o Rio de Janeiro. Acompanhou Chamberlain no vapor Parati ao litoral fluminense, visitando Angra dos Reis e Parati. Dali subiram a serra, passando por Cunha e Lorena, onde houve perseguição. Seguiu então para São Paulo, visitando as principais cidades e vilas do Vale do Paraíba. Na capital paulista, foi hospedado pelos Revs. Pires e McKee. No dia 15 de janeiro de 1869 partiu para Atibaia, Bragança, Amparo e Socorro. Esteve também em São José dos Campos e outros locais. Em julho voltou a São Paulo para a 5ª reunião do Presbitério do Rio de Janeiro (12-18 de agosto), a última a que compareceu. O trabalho havia mudado durante a sua ausência no exterior. A ênfase era outra: não mais o febril desbravamento, mas a consolidação em torno de alguns centros. Seu relatório foi considerado demasiado longo e recebido com certo desinteresse.

A partir de agosto de 1869, Conceição voltou a ser um solitário. Não se sentia atraído pelas estruturas e formalidades eclesiásticas. Preferia continuar viajando e pregando, apesar da saúde cada vez mais precária. Nunca mais teve companheiros de estrada; nunca mais compareceu ao presbitério nem lhe prestou relatório. Tornou-se um estranho para os próprios amigos, que raramente sabiam onde ele se achava. Era afligido periodicamente por sérias crises de depressão, que foram, no dizer de um autor, o seu “espinho na carne”. Em 21 de setembro de 1869, escreveu de São Paulo à irmã e ao cunhado dizendo-se doente “com umas feridas grandes e dolorosas” e impossibilitado de viajar. Em 6 de março de 1870 ministrou a Ceia na Igreja de São Paulo em companhia do Rev. McKee e no dia 14 oficiou no sepultamento do Rev. William D. Pitt. Em julho de 1872 esteve no Rio de Janeiro; em agosto e setembro foi visto em Queluz e depois em Caldas, Campanha e outros pontos de Minas; de outubro a dezembro andou por Areias e Mambucaba, no litoral de São Paulo. No primeiro semestre de 1873, esteve em Queluz, São Paulo, Rio de Janeiro, Piraí, Campo Belo e Caraguatatuba, entre outros locais. Tornou-se uma figura lendária nas estradas. Em muitos lugares, enfrentou tremendas perseguições e injúrias. Em Pindamonhangaba, um homem foi ouvi-lo para o insultar, mas a prédica versou sobre o Filho Pródigo e ele chorava a ausência de um filho querido. Numa fazenda, o dono o interrompeu, perseguiu-o pela estrada com um chicote e açulou os cães contra ele, deixando-o gravemente ferido. Em 1872, na cidade de Campanha, foi apedrejado por uma turba e deixado como morto na estrada.

O Rev. Conceição exerceu o seu ministério de maneira sacrificial e abnegada. Seu método era ir de vila em vila e de casa em casa, pregando, lendo e expondo a Bíblia. Vivia como um nômade, pregando em toda parte e experimentando toda sorte de privações, que lhe prejudicaram a saúde. Passava a noite em qualquer lugar que lhe oferecessem e, em sinal de reconhecimento, servia de enfermeiro a algum doente ou prestava pequenos serviços, como varrer e lavar. Alimentava-se de maneira frugal e o seu único vestuário era o que lhe cobria o corpo. Nas longas peregrinações, ocupava as horas vagas escrevendo a lápis sermões, traduzindo artigos e fazendo anotações curiosas sobre tudo o que observava. Quando se demorava por algum tempo em algum local onde podia dispor de comodidade, passava a limpo os seus sermões, hinos, notas e traduções, empregando em tudo muito método, clareza e uma bela caligrafia. Todos esses papéis ele levava consigo embrulhados em um pano, até poder dar-lhes o destino apropriado, enviando uns aos amigos e outros à redação da Imprensa Evangélica. Tinha uma presença nobre e atraente, voz harmoniosa, grande eloqüência e pureza de vida. O pouco que possuía, dava aos pobres.

Na reunião do presbitério em agosto de 1873, decidiu-se que Conceição devia fixar residência no Rio de Janeiro para cuidar da saúde. Em dezembro, ele finalmente dirigiu-se só e a pé para aquela cidade, onde o Rev. Blackford alugara uma casa aprazível em Santa Teresa para ele descansar. Perto de Piraí, indo à estação da via férrea, anoiteceu e ele buscou abrigo numa casa à beira da estrada. Um policial, vendo-o descalço e mal-vestido, o levou preso como indigente. Nos três dias que passou na prisão, gastou os seus últimos recursos, tendo de seguir a pé para a capital. Ao aproximar-se da cidade, às quatro horas da tarde do dia 24, caiu desfalecido à beira do caminho, na estrada da Pavuna. Foi levado para a enfermaria militar do Campinho, onde recebeu carinhosa assistência. Mudaram-lhe as roupas e lhe deram um caldo; só respondia com monossílabos e movimentos da cabeça. Pediu para “ficar só com Deus”. Naquela madrugada, 25 de dezembro de 1873, o Rev. Conceição morreu enquanto dormia. O major Augusto Fausto de Souza, diretor da enfermaria militar, e o subdelegado Honório Gurgel do Amaral coordenaram os preparativos para o enterro. Ia ser sepultado como indigente quando chegou o futuro candidato ao ministério Cândido Joaquim de Mesquita, enviado pelo Rev. Blackford em busca de notícias. No mesmo dia, o Rev. Conceição foi sepultado condignamente no cemitério da matriz de Irajá.

O bispo D. Pedro Maria de Lacerda soube do ocorrido e repreendeu com veemência os sacerdotes responsáveis pelo sepultamento, que alegaram não saber que se tratava do excomungado José Manoel da Conceição. Três anos mais tarde, antes de vencido o prazo legal de cinco anos, seus ossos foram exumados e transferidos para São Paulo, sendo sepultados ao lado do túmulo de Simonton, no Cemitério dos Protestantes. Sua lápide tem dois versículos que bem descrevem o seu ministério: “Não me envergonho do Evangelho de Cristo” (Rm 1.16) e “Me alegro nos sofrimentos por seu corpo, que é a igreja” (Cl 1.24). O diretor da enfermaria militar, major Fausto de Souza, anos depois veio a converter-se e escreveu uma biografia desse herói da fé, publicada na Imprensa Evangélica de janeiro e fevereiro de 1884, na forma de suplemento, sob o título “Ex-padre José Manoel da Conceição”.

Conceição deixou muitos filhos espirituais, cujos descendentes atuam até hoje na Igreja Presbiteriana do Brasil. Dois exemplos entre tantos, além dos Gouvêa e dos Cerqueira Leite, são as famílias Barbosa Martins (Rev. Wadislau Martins Gomes) e Campos (D. Aurora de Campos Kerr, Rev. Heber Carlos de Campos). Colaborou na Imprensa Evangélica com artigos e sermões, alguns dos quais foram reproduzidos em um suplemento do Brasil Presbiteriano em 1972, no sesquicentenário do seu nascimento (“A devoção doméstica”, “A ilustração”, “O evangelho”, “O endurecimento do coração” e “A última ceia do Senhor”). Deixou também alguns hinos, dentre os quais “Amar-te, Jesus, e crer-te”, “Oh! Se me fora possível”, “Dou de mão à vaidade” e “Escreve tu com própria mão”, o escrito “As exéquias de Abraão Lincoln, presidente dos Estados Unidos” (1865) e algumas cartas. Era versado em matemáticas e ciências físicas e naturais; conhecia francês, inglês, latim e alemão.

Em sua homenagem, a instituição fundada em 1928 pelo Rev. William A. Waddell em Jandira, nos arredores de São Paulo, recebeu o nome de Instituto José Manoel da Conceição, nome esse preservado atualmente no seminário presbiteriano situado no bairro do Campo Belo, na capital paulista. Em Votorantim, cidade próxima de Sorocaba, a igreja presbiteriana está em uma avenida que leva o seu nome, na qual também se encontra o seu busto. Como bem apontou o seu biógrafo, Rev. Boanerges Ribeiro, a maior contribuição do ex-sacerdote foi a proposta de um modelo brasileiro para a reforma da vida religiosa do seu país. Outro estudioso, Paul E. Pierson, um ex-missionário no Brasil, também destacou as características de Conceição que o qualificavam para fazer uma síntese entre o cristianismo evangélico e a cultura brasileira, em contraste com os seus colegas estrangeiros e mesmo brasileiros. 

Fonte: http://www.mackenzie.com.br/10177.htm

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